{"id":5535,"date":"2021-05-03T14:02:28","date_gmt":"2021-05-03T17:02:28","guid":{"rendered":"https:\/\/archscape.com.br\/2024\/?p=5535"},"modified":"2021-05-03T14:03:20","modified_gmt":"2021-05-03T17:03:20","slug":"potencial-mata-atlantica-no-paisagismo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/archscape.com.br\/2024\/potencial-mata-atlantica-no-paisagismo\/","title":{"rendered":"O potencial da flora da mata Atl\u00e2ntica no paisagismo de casa"},"content":{"rendered":"
N\u00f3s propomos um exerc\u00edcio para voc\u00ea que tem planta em casa: escolha uma e procure a sua origem. S\u00e3o grandes as chances de a resposta ser \u00c1sia ou \u00c1frica. Isso porque, mesmo que o Brasil seja um dos campe\u00f5es da biodiversidade no mundo, \u00e9 fato que o paisagismo brasileiro \u00e9, na verdade, ex\u00f3tico.<\/p>\n
Atualmente h\u00e1 um movimento no Brasil que busca por um \u201cpaisagismo ecol\u00f3gico\u201d, que prioriza o estudo e o respeito \u00e0s plantas nativas, preteridas por estrangeiras que um dia vieram ao Brasil e tomaram o seu lugar.<\/p>\n
A estimativa, com base em alguns estudos de amostragem, \u00e9 de que acima de 90% das plantas mais utilizadas no paisagismo brasileiro s\u00e3o ex\u00f3ticas.<\/p>\n
Essa mistura de esp\u00e9cies gera uma s\u00e9rie de problemas, tanto de ordem ambiental como cultural. Quando substitu\u00edmos uma \u00e1rea de biodiversidade milenar por um conjunto de plantas estrangeiras, o resultado \u00e9 um \u201cholocausto ambiental\u201d, extinguindo seres que estavam ali muito tempo antes.<\/p>\n
Al\u00e9m disso, ao desconectar as pessoas do conv\u00edvio com a vegeta\u00e7\u00e3o nativa da regi\u00e3o, elas deixam de valorizar essas esp\u00e9cies, causando um preju\u00edzo em cascata.<\/p>\n
Neste artigo, vamos um pouco sobre a biodiversidade da Mata Atl\u00e2ntica e como ela pode ser aproveitada em um paisagismo sustent\u00e1vel para casas com grandes terrenos. Confira!<\/p>\n
Quando os portugueses chegaram ao Brasil por volta de 1500, o bioma que recepcionou as caravelas foi a exuberante e diversa Mata Atl\u00e2ntica. Este bioma ocupava uma \u00e1rea que correspondia a 15% do territ\u00f3rio nacional, mas hoje, restam cerca de 12,5% da floresta que existia originalmente.<\/p>\n
\u00c9 constitu\u00edda, principalmente, por mata ao longo da costa litor\u00e2nea, que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.<\/p>\n
A Mata Atl\u00e2ntica apresenta uma variedade de forma\u00e7\u00f5es, engloba um diversificado conjunto de ecossistemas florestais com estrutura e composi\u00e7\u00f5es flor\u00edsticas bastante diferenciadas, acompanhando as caracter\u00edsticas clim\u00e1ticas da regi\u00e3o onde ocorre.<\/p>\n
Cerca de 70% da popula\u00e7\u00e3o brasileira vive no territ\u00f3rio da Mata Atl\u00e2ntica. Se voc\u00ea reside nos estados litor\u00e2neos, \u00e9 bem prov\u00e1vel que o seu terreno j\u00e1 foi no passado um trecho dessa floresta.<\/p>\n
As nascentes e mananciais abastecem as cidades, sendo um dos fatores que t\u00eam contribu\u00eddo com os problemas de crise h\u00eddrica, associados \u00e0 escassez, ao desperd\u00edcio, \u00e0 m\u00e1 utiliza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua, ao desmatamento e \u00e0 polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Logo em seguida ao descobrimento, grande parte da vegeta\u00e7\u00e3o da Mata Atl\u00e2ntica foi destru\u00edda devido \u00e0 explora\u00e7\u00e3o intensiva e desordenada da floresta. O Pau-Brasil foi o principal alvo de extra\u00e7\u00e3o e exporta\u00e7\u00e3o dos exploradores que colonizaram a regi\u00e3o e hoje est\u00e1 quase extinto.<\/p>\n
O primeiro contrato comercial para a explora\u00e7\u00e3o do pau-brasil foi feito em 1502, o que levou o Brasil a ser conhecido como \u201cTerra Brasilis\u201d, ligando o nome do pa\u00eds \u00e0 explora\u00e7\u00e3o dessa madeira avermelhada como brasa.<\/p>\n
Outras madeiras de valor tamb\u00e9m foram exploradas at\u00e9 a extin\u00e7\u00e3o, como por exemplo, a tapinho\u00e3, sucupira, canela, canjarana, jacarand\u00e1, ararib\u00e1, pequi, jenipaparana, peroba, urucurana e vinh\u00e1tico.<\/p>\n
Al\u00e9m da explora\u00e7\u00e3o predat\u00f3ria dos recursos florestais, houve tamb\u00e9m um significativo com\u00e9rcio e exporta\u00e7\u00e3o de couros e peles de animais. Hoje, praticamente 90% da Mata Atl\u00e2ntica em toda a extens\u00e3o territorial brasileira est\u00e1 totalmente destru\u00edda.<\/p>\n
\u00c9 a segunda floresta mais amea\u00e7ada de extin\u00e7\u00e3o do mundo. Este ritmo de desmatamento \u00e9 2,5 vezes superior ao encontrado na Amaz\u00f4nia no mesmo per\u00edodo, segundo o Instituto Brasileiro de Florestas.<\/p>\n
Os motivos que explicam a prefer\u00eancia pelas plantas ex\u00f3tica remontam os s\u00e9culos de hist\u00f3ria brasileira, pois esta \u00e9 uma tradi\u00e7\u00e3o que veio a partir dos imigrantes que colonizaram o Brasil, no per\u00edodo da vinda da fam\u00edlia real portuguesa.<\/p>\n
O primeiro grande projeto de reflorestamento do pa\u00eds foi a floresta da Tijuca. Dom Pedro, na \u00e9poca, decidiu usar esp\u00e9cies das quais gostava \u2013 como a jaqueira, por exemplo.<\/p>\n
Esse costume de reproduzir em terras tropicais os jardins europeus trouxe suas consequ\u00eancias comerciais. Como, na Europa, o cultivo de esp\u00e9cies ornamentais j\u00e1 era difundido, era mais f\u00e1cil obter mudas e sementes das esp\u00e9cies ex\u00f3ticas do que se voltar a produ\u00e7\u00e3o nacional.<\/p>\n
A quest\u00e3o mercadol\u00f3gica tem grande peso na continuidade desta pr\u00e1tica, deixando o paisagismo vinculado apenas \u00e0 decora\u00e7\u00e3o e \u00e0 est\u00e9tica, o que \u00e9 apenas uma parte do paisagismo em si.<\/p>\n
De acordo com os dados disponibilizados pelo Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, h\u00e1, aproximadamente, 20 mil esp\u00e9cies vegetais que correspondem a mais de 30% das esp\u00e9cies existentes em territ\u00f3rio brasileiro.<\/p>\n
A flora da Mata Atl\u00e2ntica conta com algumas das esp\u00e9cies mais conhecidas, como:<\/i><\/p>\n Cabe mencionar que as varia\u00e7\u00f5es ambientais acontecem em virtude da latitude, longitude e outras condi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n Em meio a tantas \u00e1reas do conhecimento que v\u00eam surgindo para nos apoiar nesta transi\u00e7\u00e3o da humanidade para um momento de maior harmonia com a natureza, a agroecologia \u00e9 sem d\u00favida, assunto important\u00edssimo a ser estudado por aqueles que buscam um paisagismo mais consciente.<\/p>\n O seu conjunto de t\u00e9cnicas de produ\u00e7\u00e3o respeitam e imitam a natureza, usam os recursos dispon\u00edveis evitando o transporte de insumos a longas dist\u00e2ncias, eliminam o uso de qu\u00edmicos, t\u00f3xicos e poluentes para a produ\u00e7\u00e3o de alimentos limpos e saud\u00e1veis.<\/p>\n A agroecologia apoia o paisagismo sustent\u00e1vel, levando em considera\u00e7\u00e3o a integra\u00e7\u00e3o com a comunidade que cerca estes espa\u00e7os e tamb\u00e9m trazendo um conjunto de t\u00e9cnicas que far\u00e3o a diferen\u00e7a para uma integra\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica.<\/p>\n – Escolha das plantas:<\/b> valorizar a biodiversidade local \u00e9 uma chave especial para mantermos a vida no planeta equilibrada. As plantas nativas s\u00e3o mais adaptadas ao clima e podem produzir alimento para a fauna local, como passarinhos e outros. Ainda, podem-se escolher esp\u00e9cies \u00fateis como plantas medicinais, arom\u00e1ticas, aliment\u00edcias ou que produzem materiais \u00fateis para artesanato, constru\u00e7\u00e3o, etc.<\/p>\n – O uso de cobertura morta, ou mulch:<\/b> cobrir a terra com uma camada de material vegetal ajuda a proteger e enriquecer o solo progressivamente, manter a umidade e controlar as plantas espont\u00e2neas (conhecidas popularmente como ervas daninhas, que s\u00e3o, na verdade, como um curativo da natureza para solos descobertos e desprotegidos).<\/p>\n – Policultivos:<\/b> plantar v\u00e1rias esp\u00e9cies em cons\u00f3rcio, misturadas. Um estudo sobre companheirismo pode mostrar plantas que se ajudam mutuamente e fazem o sistema ficar mais resistente e equilibrado. Policultura \u00e9 o contr\u00e1rio de monocultura (o plantio de uma s\u00f3 esp\u00e9cie). Estas monoculturas precisam de estrat\u00e9gias para manter a sua perman\u00eancia, e da\u00ed vem o uso de agrot\u00f3xicos, herbicidas e fertilizantes, pois o solo est\u00e1 sempre sendo exaurido. As policulturas ajudam a manter a qualidade do solo por muito mais tempo e proporcionam um melhor aproveitamento do espa\u00e7o.<\/p>\n – Aproveitamento do espa\u00e7o:<\/b> o paisagismo sustent\u00e1vel ensina a planejar um design inteligente e eficiente para o uso dos espa\u00e7os dispon\u00edveis da melhor forma. Uma estrat\u00e9gia comum \u00e9 o uso de hortas verticais, que podem ajudar a produzir alimentos saud\u00e1veis em apartamentos, casas, restaurantes, escolas, etc.<\/p>\n – Controle ecol\u00f3gico de desequil\u00edbrios: <\/b>existem maneiras de proteger as plantas de insetos, fungos e doen\u00e7as. A primeira estrat\u00e9gia \u00e9 manter um solo rico e com boa estrutura, e os adubos org\u00e2nicos e h\u00famus de minhoca podem, at\u00e9 mesmo, serem produzidos em casa ou coletivamente em condom\u00ednios.<\/p>\n O paisagismo ecol\u00f3gico traz uma valoriza\u00e7\u00e3o cultural da propriedade e das \u00e1reas p\u00fablicas, j\u00e1 que boa parte dos arquitetos paisagistas tem procurado adequar seus projetos \u00e0s novas concep\u00e7\u00f5es ecol\u00f3gicas.<\/p>\n Alguns setores relacionados ao paisagismo ecol\u00f3gico t\u00eam surgido, como viveiros certificados de mudas nacionais, produtores de adubo org\u00e2nico, produtos de manuseio recicl\u00e1vel, entre outros.<\/p>\n Este novo movimento deve direcionar a aten\u00e7\u00e3o para o desenvolvimento de jardins com plantas nativas, no caso brasileiras, valorizando nossa riqu\u00edssima flora, colaborando assim com o aprendizado sobre a nossa natureza, bem como evitar a introdu\u00e7\u00e3o indiscriminada de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, o que n\u00e3o se justifica em vista da enorme diversidade da flora brasileira.<\/p>\n A verdade \u00e9 que o paisagismo ecol\u00f3gico \u00e9 aquele que n\u00e3o parece feito pela m\u00e3o do homem, mas pela pr\u00f3pria natureza. Jardins que exigem cuidados excessivos \u00e9 um desejo de imposi\u00e7\u00e3o sobre a natureza que n\u00e3o cabe mais no s\u00e9culo 21.<\/p>\n Al\u00e9m disso, um dos principais problemas aprontados pelos bot\u00e2nicos ao mesclar esp\u00e9cies de origens diferentes \u00e9 a competi\u00e7\u00e3o biol\u00f3gica, pois ao usar plantas ex\u00f3ticas, voc\u00ea pode usar uma esp\u00e9cie que se torna agressiva e compete com as nativas, substituindo-as.<\/p>\n H\u00e1 uma perda da diversidade em fun\u00e7\u00e3o disso. J\u00e1 entre as plantas nativas, esse problema n\u00e3o acontece, porque elas j\u00e1 est\u00e3o bem ambientadas e, portanto, n\u00e3o s\u00e3o prejudiciais.<\/p>\n Por isso, \u00e9 essencial que o arquiteto paisagista n\u00e3o hesite em aprender sobre a vegeta\u00e7\u00e3o de um pa\u00eds.<\/p>\n\n
Agroecologia e paisagismo sustent\u00e1vel na busca pela preserva\u00e7\u00e3o<\/strong><\/h2>\n
Confira algumas estrat\u00e9gias \u00fateis:<\/i><\/strong><\/h3>\n
Mas, afinal, quais esp\u00e9cies usar?<\/strong><\/h3>\n