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Engana-se muito quem pensa que arquitetura sustentável se baseia apenas em prédios bonitos, com terraços verdes e iluminação natural. Construções sustentáveis vão além do paisagismo e preocupação com o consumo de energia e água. Esse tipo de tema é multidisciplinar, abrange várias áreas e tem papel fundamental de auxiliar na saúde e qualidade de vida de seus usuários.

Com a questão sustentável ganhando cada vez mais força pelo mundo, muito se discute sobre o que pode ser feito para preservar o meio ambiente. Somam-se também o desenvolvimento das relações sociais e interpessoais dos moradores, além de outro aspecto primordial da vida nas cidades: a mobilidade urbana.

Neste artigo vamos falar um pouco sobre a relação da arquitetura sustentável e a mobilidade urbana, entendendo como ambas se complementam. Acompanhe!

Responsabilidade ambiental em destaque

Você pode ter uma ideia geral, mas é importante definir o conceito acerca desse tema. A arquitetura sustentável está relacionada a projetos que buscam otimizar recursos naturais e diminuir os impactos ambientais que as obras geram.

Os princípios da arquitetura sustentável se confundem com os princípios da boa arquitetura: analisar os entornos, as condições climáticas e atender as necessidades do usuário, respeitando o meio ambiente.

Uma das prioridades é a utilização de recursos de origem natural, além de serem adquiridos de fornecedores que trabalhem de forma consciente. Os produtores locais também são valorizados, para evitar que o transporte vindo de longe cause mais emissão de CO2.

Neste âmbito, também há uma grande preocupação com o melhor uso da água, sensores em torneiras, aquecedores ou placas solares. Logo, sempre traz formas de reaproveitar o que já está disponível.

O Green Building Council (GBC) aponta o Brasil como o quarto país com mais construções sustentáveis. Estamos apenas atrás de países como os Estados Unidos, a China e os Emirados Árabes. O fato é que esse modelo de arquitetura não poupa apenas o meio ambiente. Ele vem trazendo mais qualidade de vida para os moradores e seus vizinhos, mostrando também um proveito social.

Dessa forma, a relevância da arquitetura sustentável começa na preservação do meio ambiente e avança para o bem-estar da comunidade. Pensar em arquitetura sustentável é uma forma de incentivar um equilíbrio social, favorecendo todos à volta da construção. Com isso, quando se usa apenas os recursos necessários, outras pessoas podem aproveitar também com o passar dos anos.

Podemos destacar os princípios da arquitetura sustentável como:

  • Observar o entorno;
  • Respeitar as limitações do local;
  • Planejar de forma integrada;
  • Se atentar às condições climáticas;
  • Promover praticidade ao usuário;
  • Seguir as normas e regulamentações vigentes;
  • Incentivar o uso consciente de recursos e materiais.

Como vemos, a implantação da arquitetura sustentável requer um amplo trabalho de pesquisa e planejamento, que acabam por orientar as decisões e promover sempre as melhores soluções, tanto para o meio ambiente, quanto para as pessoas envolvidas.

Para nossa saúde contudo, as vantagens de morar em uma edificação sustentável acabam quando se gasta horas tensas do dia no trânsito pesado dentro de um automóvel e poluindo o meio ambiente.

Facilidade para se mover

Você sabia que a Mobilidade Urbana é definida como a condição que permite o deslocamento das pessoas em uma cidade, com o objetivo de promover relações sociais e econômicas? Ônibus, metrô, outros transportes coletivos e carros fazem parte das soluções de mobilidade.

Ao pé da letra, mobilidade significa “facilidade para se mover”. Na teoria, traz a ideia de tornar esse movimento fluido e prático, mas o que pudemos perceber é que as cidades estão perdendo a capacidade de permitir que as pessoas se movam com qualidade.

É por isso que o tema mobilidade urbana passou a ser repensado. Muitos profissionais e pesquisadores do tema buscam trazer de volta o seu sentido primário e original, para melhorar a qualidade de vida das pessoas de forma sustentável.

Provavelmente você já ouviu falar em plano de mobilidade urbana: trata-se de um conjunto de diretrizes pensadas para melhorar o deslocamento sustentável das pessoas em uma cidade, sempre observando os resultados positivos na qualidade de vida das pessoas.

As propostas buscam garantir acessibilidade, segurança, eficiência, qualidade de vida e dinamismo econômico, além de inclusão social e preservação do meio ambiente. Este último aspecto é muito importante para diminuir os impactos sobre o meio ambiente em médio e longo prazo para as cidades.

O crescimento populacional e a alta concentração de pessoas nas cidades impõem grandes desafios à mobilidade urbana. Atualmente, metade dos sete bilhões de habitantes do planeta já vivem em metrópoles e a projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) é que esse índice chegue a 70% em 2050.

Garantir que todas as pessoas consigam fazer seus deslocamentos diários de forma rápida, eficiente e sustentável ainda é um ideal longe de ser alcançado em muitos lugares do mundo.

O que é mobilidade urbana sustentável?

A mobilidade urbana sustentável busca mudanças e soluções ao transporte tradicional, envolvendo veículos particulares, transportes coletivos e também veículos não motorizados, como a bicicleta. Tudo isso, é claro, sem esquecer do pedestre. Afinal, nossos pés também são meio de transporte para curtas distâncias.

A necessidade de desenvolver e transformar a mobilidade urbana não é novidade. Porém, com o passar do tempo e o aumento da concentração de pessoas nos grandes centros, outro problema passou a fazer parte dessa discussão: a sustentabilidade.

A mobilidade urbana está diretamente ligada ao tipo de transporte usado para o deslocamento de pessoas. Somado a isso, está também a preocupação em facilitar trajetos, considerando amenizar impactos ambientais causados por combustíveis fósseis que degradam o ambiente, por exemplo.

Algumas das soluções apresentadas incluem a implementação de sistemas de deslocamento sobre trilhos, como metrôs, bondes e ônibus “limpos”, que alternam entre motor elétrico e a diese, e os VLTs (veículos leves sobre trilhos).

Essa estruturação abrange vários setores, como por exemplo, o ambiental, o de infraestrutura e o legal. Por isso, um esforço conjunto deve integrar as políticas de mobilidade, desenvolvimento, saneamento básico, planejamento e gestão urbana. O seu funcionamento também envolve:

  • Incentivo de energias renováveis;
  • Controle de circulação;
  • Planejamento cicloviário;
  • Carona corporativa;
  • Controle e emissão de gases;
  • Priorização de transportes coletivos;
  • Construção de esteiras rolantes;
  • Aumento de capacidade de elevadores;
  • Uso de teleféricos;
  • Calçadas mais amigáveis ao uso de cadeiras de rodas;
  • Planejamento da paisagem urbana, com foco no pedestre;
  • Menor poluição sonora por conta de motores barulhentos;
  • Desenvolvimento urbano integrado.

Os desafios da mobilidade urbana sustentável

Apesar de associado frequentemente apenas às questões ambientais, o conceito de mobilidade urbana sustentável engloba um tripé de ações, que incluem também aspectos sociais e econômicos.

Na América Latina, a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa são os meios de transporte. Por isso, não é possível dissociar os problemas de mobilidade das mudanças climáticas.

Segundo os especialistas, os novos modais não são a solução para os problemas de mobilidade. Eles são parte da solução, é o caso da bicicleta, mas também de novos sistemas como o BRT (Transporte rápido por ônibus) – projeto desenvolvido em Curitiba que ganhou o mundo – ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do Rio de Janeiro. O projeto carioca seguiu a tendência mundial de humanizar os grandes centros, tornando-os mais amigáveis para os pedestres.

A era dos automóveis parece que está chegando o fim, as novas gerações já não têm o mesmo sonho de ter um primeiro automóvel. Eles se viram muito bem com o Uber, taxi, caronas, de várias formas. Lentamente, a cultura está mudando e é necessário aproveitar essa mudança para traçar um projeto de futuro.

A relação da arquitetura sustentável com a mobilidade urbana

Nos últimos anos surgiu um conceito chamado “cidade de 15 minutos”, que se tornou a política oficial da prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Trata-se da ideia de promover uma forte descentralização das atividades urbanas, de forma que cada áreas da cidade, acessível a 15 minutos de caminhada, seja autossuficiente para a vida cotidiana.

Ou seja, nesse entorno imediato, o cidadão conseguiria trabalhar, se alimentar, ter lazer, escola para os filhos, etc, tudo que evite o deslocamento motorizado e o uso desnecessário do automóvel.

Neste novo paradigma, cai por terra o conceito estabelecido de zoneamento que temos hoje na maioria das cidades, onde cada porção do território deve ter apenas um único uso (residencial, comercial, serviços). Para se tornar real o conceito da cidade de 15 minutos, é necessária uma abordagem diferente na arquitetura, considerando maior densidade populacional e maior variedade de usos em uma única edificação.

A cidade de São Paulo, por exemplo, promulgou em 2014 seu novo plano diretor que previu uma possibilidade de construção de mais andares, limitando tanto o tamanho dos apartamentos, quanto a quantidade de vagas de carros, com bonificação para mescla de usos residenciais com não residenciais e comércio no térreo.

Tais condições, contudo, foram permitidas apenas onde há corredor de ônibus e metrô, procurando assim cruzar o maior adensamento populacional com a oferta de transporte público. Os resultados desse modelo ainda estão sendo constatados, porém, já surgiram algumas críticas para esse modelo:

  • Haveria vocação de comércio e fluxo de veículos suficiente em todas essas localidades que viabilizasse as novas lojas?
  • Toda essa nova oferta de salas comerciais ou unidades hoteleiras seriam absorvidas?
  • Os miolos de bairros ficariam carentes de serviços e esquecidos no conceito de acessibilidade a 15 minutos?
  • Como entra nessa conta a oferta de novas áreas verdes e de lazer para as áreas carentes destas?

Ainda não podermos constatar plenamente o impacto dessas diretrizes na vida cotidiana da cidade São Paulo, já que os primeiros empreendimentos ainda estão sendo entregues. O que podemos, entretanto, já constatar é maior qualidade dos novos edifícios frutos desse conceito de cidade acessível e multiúso.

A diversidade de usos num mesmo edifício exige do arquiteto maior atenção na elaboração dos projetos para resolver esses volumes de construção distintos e para abrigar, por exemplo, uma loja de pé direito duplo no térreo, salas comerciais nos primeiros pavimentos e apartamentos residenciais acima.

Um exemplo simples, mas impactante é a concepção das janelas: sendo elas, em geral, maiores em usos não residenciais, os apartamentos residenciais acabam por usufruir de janelas igualmente generosas para que o edifício na totalidade tenha sua arquitetura devidamente resolvida.

Outras cidades têm se inspirado no modelo e com objetivos mais ambiciosos. Em Seul, na Coréia do Sul, por exemplo, um grupo de arquitetos está projetando um bairro “cidade 10 minutos”. O empreendimento está prestes a transformar uma antiga área industrial em uma nova cidade inteligente e conectada.

O espaço vai combinar um conjunto de edifícios residenciais, espaços para cowrkings e estudos, além de locais de treinamento, centros de fitness, piscinas e até mesmo fazendas urbanas hidropônicas.

Já imaginou viver em uma cidade onde tudo fica a 10 ou 15 minutos de distância andando? Deixe sua opinião nos comentários!

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