Em Recife existe um lugar imperdível para os amantes de arte, arquitetura e paisagismo, local que muito tempo abrigou a oficina de um dos maiores artistas brasileiros.
A Oficina Brennand teve início em 1971 ocupando as ruínas da Cerâmica São João da Várzea, uma olaria do início do século passado.
O que era uma antiga fábrica de tijolos e telhas, herança adquirida pelo pai do mestre Francisco Brennand (1927-2019), acabou se tornando o seu grande atelier. Brennand, que antes achava a cerâmica uma arte menor, passou a se interessar profundamente por esta arte após conhecer a obra desenvolvida em cerâmica por Pablo Picasso, durante sua estadia na Europa, período em que frequentou o atelier do pintor Fernand Léger.
Após seu recente falecimento, o espaço ainda permanece aberto a visitação, onde se pode conhecer um conjunto arquitetônico e paisagístico suntuoso e com intervenções artísticas que lhe atribuem requintes de originalidade.
O resultado é a fusão da obra escultórica de Brennand, unida à arquitetura do início do século XX do local, uma singela mas marcante contribuição de Paulo Mendes da Rocha e um belíssimo jardim de Burle Marx, conjunto que acaba proporcionando uma experiência visual única aos amantes da arte e da arquitetura.
A Oficina Brennand é arte em estado avançado pois são 15km2 de galerias com exposições diversas, esculturas ao ar livre que são a tônica reconhecida do artista, peças exclusivas, cerâmicas ornamentais, fontes e uma boa dose de história.
O Pátio das Esculturas
O universo criativo de Brennand pode ser visto em todo sua extensão em um dos ambientes mais notáveis e intrigantes do lugar, o Pátio das Esculturas. Nele o visitante percorre uma esplanada ladeada por tótens e arcadas na qual se alternam uma sequência de esculturas e obras artísticas do mundo imaginário do autor, que culmina num gazebo e um espelho d’água.
A Praça Burle Marx
Com um toque de dois mestres, a praça projetada pelo paisagista mais renomado da história brasileira, é totalmente composta de peças de Francisco Brennand. Constituiu-se em um presente do paisagista, com sua linguagem marcante de curvas e apresentando composição de texturas e espécies nativas.
Capela Nossa Senhora da Conceição
Com entrada separada, passando o acesso à Cerâmica, localiza-se quase despercebida uma inusitada capela de paredes brancas. Construídas sobre a estrutura de um casarão em ruínas do século 19, esta capela tem a especificidade de ter sido projetada por um dos maiores arquitetos brasileiros, Paulo Mendes da Rocha. Como a estrutura das paredes não aguentaria o peso de uma nova cobertura, o arquiteto idealizou uma nova cobertura que repousa em dois únicos pilares, distantes longitudinalmente, um servindo de altar e o outro de coro. Caprichosamente, a estrutura não toca as paredes, deixando um vão de alguns centímetros apenas e à noite, com as luzes acesas aparenta ser uma elegante luminária que irradia luz no entorno.
O local conta o cine teatro Deborah Brennand, uma lojinha de souvenirs e poderá conhecer ainda a Academia (uma espécie de Pinacoteca), o Anfiteatro, o Salão de Esculturas, o Templo Central, o Templo do Sacrifício, o Estádio, auditório, além da referida Capela.
A importância cultural do artista e do espaço é amplamente conhecida pelo seu valor cultural ao unir diversas artes com tanta magnitude. Poder fazer uma imersão na arquitetura industrial do começo do século XX com claras influências europeias, acervo gigante de obras de artes, jardim de Burle Marx, a arquitetura moderna e tantos outros ambientes de intensa qualidade arquitetônica é uma visita que merece ser programada.
Gustavo Garrido é arquiteto paisagista e head do Archscape Arquitetura