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A pandemia causada pelo Coronavírus provocou mudanças significativas na maneira como vivemos e, também, como nos relacionamos com a cidade. Com o custo de vida mais elevado e a mobilidade restrita, por que pagar mais caro para viver em uma cidade grande?

Essa pergunta passou pela mente de muitas pessoas desde março do ano passado e, para uma parte delas, a questão resultou no retorno às cidades de origem ou a busca por uma vida mais tranquila no interior.

O movimento de êxodo urbano, que é quando as pessoas deixam de viver nas grandes cidades para uma vida no interior ou em cidades menores, não é algo novo na história da humanidade. Após a gripe espanhola, a população de Nova York, por exemplo, diminuiu 66% no período entre 1920 e 1970.

O fato é que a pandemia despertou novos hábitos e vem acelerando o êxodo urbano, além da busca por mais qualidade de vida – que foi despertada na população – com a vontade de mais espaço, contato com a natureza e segurança.

Neste artigo, conversamos com o arquiteto urbanista Gustavo Garrido para entender mais sobre esse fenômeno social e se essa é uma tendência que veio para ficar. Confira!

A pandemia tem influência no movimento de êxodo urbano?

Entre as décadas de 1960 e 1980, o Brasil vivenciou de forma intensa o êxodo rural, quando as pessoas deixam o campo por uma vida nos grandes centros urbanos. Esse fenômeno contribuiu com cerca de 20% de todo o processo de urbanização do país, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Mas os dados do último Censo Demográfico de 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registraram uma queda de 49% na taxa de migração campo-cidade. Hoje, 84,72% da população brasileira vive em áreas urbanas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015. No sudeste, apenas 7% da população vive em áreas rurais.

Essa tendência demográfica de concentração populacional em áreas urbanas pode estar mudando. De acordo com dados sobre moradia e habitação no Brasil coletados pela imobiliária ZAP, a busca por imóveis a mais de 100 quilômetros de distância da cidade de São Paulo aumentou cerca de 340% entre janeiro e maio de 2020. O mesmo aconteceu com outros centros urbanos ao redor do mundo. Londres, por exemplo, perdeu em média 700 mil moradores no mesmo período.

Gustavo Garrido explica que, até a pandemia surgir, havia uma preferência em morar nos centros urbanos, mesmo com os grandes problemas de deslocamento. “E quem buscou morar fora, se arrependeu, pois tinha que se deslocar de outra cidade, levando tempo igual ou maior. Morava fora ou quem tinha emprego fora da cidade, ou quem era aposentado”.

Com o novo coronavírus e as medidas rígidas de lockdown decretadas em muitos países ao redor do mundo, a realidade das famílias também mudou e a flexibilização das formas de trabalho abriu portas para novos lifestyles.

As medidas de isolamento fizeram com que as pessoas precisassem adaptar toda a sua rotina para dentro de casa. Com isso, muita gente começou a perceber que o espaço de suas casas não era suficiente.

Outro fator que pode ter pesado na decisão de mudança, foi a alta assustadora dos valores dos imóveis que acompanhamos recentemente. Gustavo explica que isso ocorreu, basicamente, pela oferta de taxas menores de juros para o financiamento imobiliário.

Por mais que o valor isolado esteja maior, mais vale se a parcela cabe no bolso. E é no final essa a análise que as famílias fazem. Mas, é claro, quando se compara um apartamento de 100m² e uma casa de 500m² pelo mesmo valor, a tentação de se mudar para o interior é realmente grande”.

Para Gustavo, esse foi o principal fator que desequilibrou a mudança, mas muito ainda precisa ser desenvolvido para que essa opção seja mais fácil de ser escolhida.

A tendência é a descentralização tanto das formas de trabalho quanto das formas de lazer nas grandes metrópoles. Mas ainda é necessário replanejar os espaços urbanos e descentralizar serviços essenciais que, hoje, localizam-se nos centros urbanos”.

Um fenômeno que veio para ficar?

O movimento de êxodo urbano já se insinuava com a revolução tecnológica, porém, com a pandemia da COVID-19 o fenômeno pode acelerar. Com o avanço tecnológico e, principalmente, pelo surgimento de novas formas de trabalho, como o home office, as regiões periféricas se apresentam como uma possibilidade de recomeço tanto profissional quanto pessoal.

Para evitar aglomerações, eventuais contágios e a busca por qualidade de vida, as grandes cidades podem experimentar o esvaziamento dos centros urbanos. Além disso, o êxodo urbano representa a saída do caos das metrópoles e a busca por mais qualidade e vida, menor índice de violência urbana.

A busca por cidades localizadas nos arredores urbanos se intensificou no Brasil com a amplitude do home office. O índice de pessoas em trabalho remoto passou de 3,8 milhões para 8 milhões após a pandemia.

Muitas pessoas estão percebendo que não precisam estar conectadas em tempo integral às cidades, podendo escolher onde estar e trabalhar.

Se as formas de trabalho permanecerem flexíveis no pós-pandemia, poderemos experimentar novas oportunidades de geração de emprego e renda.

Isso pode fomentar novos comportamentos que já eram observados antes da pandemia: a necessidade de morar perto do trabalho, para evitar grandes deslocamentos e engarrafamentos, e a migração para áreas afastadas dos centros urbanos, em busca de mais qualidade de vida no interior”.

O debate sobre bairros mais autossuficientes e a valorização do comércio local foram protagonistas nos primeiros meses de isolamento social. Com o replanejamento dos fluxos urbanos e o uso do transporte público, é possível evitar grandes deslocamentos e aglomerações de pessoas. Alguns hábitos que devem permanecer mesmo com o fim do isolamento social.

Eu acredito muito que vai haver mais condição de equilíbrio entre cidade e interior. Que a cidade vai continuar se valorizando, não há dúvidas, mas o interior vai cada vez mais oferecer melhor infraestrutura de serviços para as famílias”, complementa Gustavo.

As operadoras de internet, por exemplo, estão atualmente com uma demanda enorme que não conseguem atender no mesmo ritmo. E, além disso, o advento de novas tecnologias também vai contribuir para esse equilíbrio, como os carros autônomos de entregas.

A Amazon, por exemplo, já possui serviço ativo em algumas cidades e redes de restaurantes nacionais já se mobilizam para isso. Ou seja, no final das contas, poderemos ter mais opções de moradia segundo o estilo de vida de cada um, mas com maiores condições de ter uma vida mais sustentável e com qualidade urbana”, afirma.

Busca por paz e tranquilidade no interior

Com essa maior liberdade de escolha na hora de decidir onde trabalhar, seja em sua casa ou em uma residência alugada, ou casa de férias, nossas possibilidades têm surgido. Nós listamos a seguir uma série de projetos de abrigos modernos pensados para a vida rural, que representam a busca por afastamento das metrópoles. Veja:

Big Cabin| Little Cabin

Este conjunto de cabines, projetado por Renée del Gaudio, fica situado no alto de um penhasco rochoso a 3 mil metros de altitude, com vistas panorâmicas sobre as montanhas no Colorado. Uma floresta de pinheiros cerca a propriedade, dando uma sensação de privacidade  e proteção.

Bear Run Cabin

Esta casa modesta e sustentável, assinada por David Coleman Achitecture, foi construída de forma a ter uma presença marcante na paisagem. Rodeada por picos de montanhas dramáticos, o terreno tem um declive para leste e vista para um grande bosque.

Rolling Huts

Esse projeto, de Olson Kundig, é uma resposta à necessidade do proprietário ter mais espaço para abrigar amigos e familiares visitantes. O conjunto de cabanas pode ser classificado como uma evolução do acampamento tradicional.

Os módulos foram suavemente posicionados e suspensos do solo, uma planície de inundação, enquanto permanecem sendo um projeto de baixo impacto e com uma tecnologia simples.

Encuentro Guadalupe

Localizado na região vinícola do México, este conjunto assinado por Graciastudio, conta com vinte abrigos independentes e é operado pelo Grupo Habita. Estão localizados em uma paisagem de 99 hectares, parte do empreendimento Encuentro Guadalupe, que inclui uma vinícola e uma área residencial.

Cabana na Montanha

Situado no Piz Lunghin, também conhecido como “O Telhado da Europa”, o projeto de Thilo Alex Brunner fica em uma localização remota idílica, ao lado e um lago alpino. O local é acessível apenas a pé, e fica a quase 8200 pés de altitude.

No interior, a cabana simples é quase totalmente revestida com madeira compensada, utilizada também para criar as paredes e pisos.

A45

Idealizado pela Bjarke Ingels Group, A45 é o primeiro protótipo construído no interior de Nova York e será personalizável interna e externamente para futuros proprietários comparem, adaptarem e terem a pequena casa construída dentro de 4 a 6 meses em qualquer local, para qualquer finalidade.

O projeto evoluiu da tradicional cabine tipo A, conhecida por seu teto e paredes inclinadas, que permitem fácil escoamento da chuva.

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