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Arquiteto, urbanista e professor. Paulo Mendes da Rocha, que nos deixou no dia 23 de maio, fez uma carreira exemplar, tanto acadêmica quanto em projetos espalhados pelo Brasil. Sua obra fala por si, eloquente, ampla, acolhedora, iluminada.

Representante da Escola Paulista e ganhador do Prêmio Pritzker, o chamado “Nobel da arquitetura”, é o autor de projetos como o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e o plano de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Neste texto, vamos contar um pouco da sua trajetória, sua visão integradora e suas maiores obras. Confira!

Quem foi Paulo Mendes da Rocha?

Paulo Mendes da Rocha nasceu em 25 de outubro de 1928, em Vitória e formou-se em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954.

A escolha da profissão pode ter sido por influência do seu pai, que era engenheiro e professor de Naval e Recursos Hídricos na POLI, em São Paulo. Isso o inspirou e deu uma visão mais abrangente sobre o papel da arquitetura e a sua relação com a geografia.

Em 1958, quatro anos depois de formado, Mendes da Rocha foi autor do projeto vencedor do Ginásio do Clube Atlético Paulistano, que, logo mais tarde, lhe conferiu um prêmio na VI Bienal Internacional de São Paulo.

Sua carreira acadêmica na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, começou em 1960. Neste período, além de diversas escolas da rede pública, Paulo Mendes da Rocha projetou, em 1962, a sede social do Jockey Club de Goiânia.

Em parceria com Vilanova Artigas e Fábio Penteado, o arquiteto projetou um conjunto habitacional para 50 mil pessoas, em Guarulhos, conhecido com “Zezinho Guimarães Prado”.

Mesmo com sua carreira brilhante, Paulo Mendes da Rocha foi afastado da Universidade de São Paulo durante o período da Ditadura Militar, no ano de 1960, e teve a sua licença profissional caçada. Ainda assim, o arquiteto venceu, no ano seguinte, o concurso para o projeto do Pavilhão do Brasil na Expo 70, em Osaka, no Japão.

Em 1976, Mendes da Rocha também projetou o Centro Cultural de Convenções de Campos do Jordão, cidade serrana turística do Estado de São Paulo.

Com a anistia, em 1980, o professor Paulo Mendes da Rocha pode retornar à FAU, onde permaneceu lecionando até 1999.

Durante a sua vida, Mendes da Rocha projetou obras memoráveis, sempre caracterizadas pelo uso da técnica para transformar a topografia e as estruturas já existentes em prol de uma obra que vai integrar seu uso ao entorno, graças à engenhosidade humana.

Pinacoteca

Pinacoteca de São Paulo

Reconhecimento Internacional, produção nacional

Além dos incansáveis elogios ao seu traçado, Paulo Mendes da Rocha também é respeitado por suas reflexões sobre centros urbanos, transporte público e educação.

Em 2006 o arquiteto recebeu a condecoração máxima entre os profissionais do mundo, o Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura. Além de Paulo Mendes, o único arquiteto brasileiro a receber o prêmio foi Oscar Niemeyer, condecorado em 1988.

Quando Jane Duncan, presidente do Royal Institute Of British Architects (Riba), anunciou Paulo Mendes da Rocha como vencedor da Royal Gold Medal 2017, os adjetivos utilizados para descrevê-lo foram “arquiteto de classe mundial e verdadeira lenda viva”.

O prêmio é concedido anualmente em reconhecimento ao conjunto da obra de um profissional ou grupo de pessoas, considerando sua influência no avanço da arquitetura. A premiação tem aprovação pessoal da Rainha da Inglaterra, Elizabeth II.

Esta foi a terceira honraria de grande relevância que o brasileiro recebeu apenas em 2016. Antes, no mesmo ano, o arquiteto já havia sido condecorado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (Itália) e contemplado com o Prêmio Imperial de Artes 2016, do Japão.

Com o prêmio Riba Gold, o arquiteto passou a integrar um seleto grupo de arquitetos que inclui além de Oscar Niemeyer, Zaha Hadid, Frank Gehry, Norman Foster, Kenzo Tange, Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, entre outros nomes de expressão internacional.

Paulo Mendes da Rocha é um dos expoentes da chamada “Escola Paulista”, que é o termo utilizado para definir uma parte da produção de arquitetura moderna no Brasil.

Esse movimento tinha suas raízes em São Paulo, e era formado por um grupo de profissionais que tinham como líder o arquiteto João Batista Vilanova Artigas.

Podemos dizer, de maneira simplista, que a Escola Paulista é uma releitura, aplicada a realidade e contexto brasileiro, do Brutalismo Europeu – uma vertente do modernismo que colocava vigas, pilares e outros elementos estruturais em exposição, tendo o concreto armado aparente como principal protagonista.

O reconhecimento internacional de Mendes da Rocha, sua produção diversa e singular, além do valor simbólico que suas obras têm entre os que vivenciam a cidade, são os fatores que determinam a importância do arquiteto para o Brasil e explicam sua posição nas discussões e eventos em que participou sobre arquitetura e urbanismo.

Apesar deste reconhecimento internacional, são poucos os projetos que desenvolveu fora do Brasil. Um deles, entregue em 2015 e realizado em co-autoria com o português Ricardo Bak Gordon, foi o Museu dos Coches, em Lisboa (Portugal).

O uso de materiais em seu estado bruto, o impacto social da arquitetura e sua relação com o meio ambiente são fatores fundamentais na sua abordagem, bem como a busca pela verdade estrutural das edificações, buscando evidenciar os seus elementos estruturais.

Por isso, muitas vezes Paulo Mendes da Rocha era descrito como um arquiteto brutalista. Há outros críticos que definem o trabalho de Mendes da Rocha como “essencialista”, por conta da sua insistência na abstração e redução da arquitetura em direção a um espaço mais poético e refinado.

As 7 principais obras de Paula Mendes da Rocha 

O fato é que a maior parte da obra do arquiteto está no Brasil e desperta admiração mundial. São projetos que qualificam nossas cidades, transformando o “brutalismo” do concreto em soluções espaciais requintadas e fraternas, fruto de um apuro tecnológico impecável e de seu olhar social sempre presente.

A seguir, vamos apresentar algumas das mais importantes obras da carreira de Paulo Mendes da Rocha. Confira!

  1. Sesc 24 de Maio

A reforma do edifício do Sesc 24 de Maio também faz parte do legado de Mendes da Rocha. Localizado no coração da cidade de São Paulo, conta com cerca de 28 mil metros quadrados. Um dos destaques na construção é a piscina, com área aproximada de 625m², no topo do edifício principal, com vista panorâmica para a cidade.

Para o arquiteto um dos pontos mais importantes do projeto foi trazer o lazer e o elemento água de volta ao centro da cidade.

Sesc 24 de maio

  1. Pinacoteca de São Paulo

Apesar de ter sido projetada no século XIX pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio passou por uma ampla reforma nos anos 90 feita por Mendes da Rocha. A pinacoteca, da forma como conhecemos hoje, tem uma influência grandiosa do estilo do arquiteto.

Uma das manobras adotadas para o projeto foi a rotação do eixo principal de visitação por meio de um cruzamento sutil das pontes com os espaços vazios – como os pátios internos – o que contribui para uma relação mais profunda da edificação com a cidade.

Essa reforma garantiu ao arquiteto o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, em 2000.

  1. Museu do Coche

Com projeto assinado por Paulo Mendes da Rocha, em parceria com os escritórios MMBB Arquitetos e Bak Gordon Arquitectos, o Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, foi idealizado como equipamento cultural e lugar público: sem porta, ele se relaciona para todos os lados.

Definido pelos próprios administradores como uma infraestrutura urbana que oferece espaço público à cidade, o museu é o mais visitado de Portugal. Constitui-se por um pavilhão principal e um anexo, com uma ligação elevada que permite circular entre os dois edifícios, criando uma espécie de pórtico com acesso a uma praça interna.

  1. Praça do Patriarca

O projeto da Praça do Patriarca está localizado próximo ao Viaduto do Chá, em São Paulo, e dá a sensação de uma intervenção urbana. O estilo futurista da construção contrasta com os prédios antigos do centro de São Paulo. A passagem de pessoas se dá de forma fluida e livre.

  1. Casa Gerassi

Também em São Paulo, a casa Gerassi está localizada na região do Alto de Pinheiros. Foi construída a partir de 1989 com elementos de concreto pré-moldado. Na época, o uso de concreto era considerado inovador, já que poucos arquitetos utilizavam aquele material.

Com isso, ele passou a ser uma tendência daquela época, sendo o principal material de muitos outros nomes.

A obra possui um vão livre no térreo, que compreende mais de quinze metros de comprimento. Isso mantém a casa inteira suspensa, o que chamou bastante atenção quando foi finalizada.

Casa Gerassi

  1. Capela de Nossa Senhora da Conceição

O projeto foi assinado em parceria com Eduardo Colonelli, que construíram a capela para o Brennand, no Recife. Ela foi feita a partir de ruínas de um casarão datado do século 19, tendo como desafios o clima quente e úmido, visto que o local abrigava uma fazenda de cerâmica que estava há muitos anos em posse da família.

O local vinha sendo recuperado por Francisco Brennand desde 1971. A obra promoveu uma intervenção mínima ao restabelecimento de um abrigo, que era o que as ruinas propunham. Rocha e Colonelli finalizaram a capela em 2004.

  1. Museu da Língua Portuguesa

Mais uma obra feita em São Paulo e dessa vez em seu coração. Junto a estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa foi finalizado em 2000 e é um dos principais pontos turísticos da cidade.

A obra foi baseada na tipologia da estação, visto que muito daquele espaço era parte dela no início de seu funcionamento. Por dentro, o Museu preserva boa parte do ponto histórico, dando ainda mais vivacidade para esse marco tão importante da cidade de São Paulo, mas na parte interna possui instalações tecnológicas e espaços interativos.

O Museu está fechado atualmente, depois que um incêndio limitou parte do telhado histórico da estação e também atingiu alguns acervos que eram parte do espaço. Mesmo assim, ainda é um ponto muito aclamado pelo público e que está passando por uma reforma para ser novamente aberto.

  1. Edifício Guaimbê

Projetado em 1962, o maior destaque do edifício é a paisagem urbana. Como tendência, ele é feito inteiramente em concreto. O ponto mais marcante é a fachada, que traz uma representação incrível do trabalho de Paulo, fazendo uma proteção solar ao restante do prédio. Ele foi feito com o uso de brises cursos e floreiras.

  1. Museu Brasileiro de Escultura

O MuBE foi projetado em 1995, localizado no bairro Jardim Europa, também em São Paulo. Novamente a tendência do concreto, já que este possui uma impressionante viga do material protendido com mais de 60 centímetros de comprimento. Isso causou a ilusão que a construção flutua sobre um jardim de esculturas que o cercam.

  1. Casa do Arquiteto

Esse projeto fica localizado na região do Butantã, em São Paulo, construído para a residência do próprio Paulo. Ele começou a ser construído em 1964 e apresentava um estudo de espaço bastante racional, envolvendo poucos pilares, onde as vigas mestras sustentavam toda a construção.

Casa do arquiteto

Paulo Mendes da Rocha foi responsável por estabelecer novos padrões, o que ajudou a inspirar outros profissionais, tanto de sua época como para as novas gerações, devido ao seu reconhecimento profissional.

Esses padrões foram marcantes tanto por aqui como também no mundo, mas principalmente na América Latina, e é por isso que a sua obra deve permanecer em destaque!

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