Nós já falamos aqui no blog sobre como a arquitetura biofílica é uma tendência que tem ganhado cada vez mais simpatizantes. Mas vale relembrar um pouco o assunto: em resumo, o significado da palavra biofilia é a tendência natural de voltarmos a atenção para as coisas vivas.
Após décadas seguindo um padrão de consumo excessivo e de cidades construídas para priorizar a produção – e não as pessoas – começou a surgir a necessidade de resgatar os estímulos positivos da natureza.
Tanto na arquitetura, quanto no design, esses aspectos são abordados através de uma forte presença do verde e de plantas, seja dentro de casa ou em um espaço urbano. Além da valorização de aspectos como luz e ventilação naturais e soluções que incentivem as pessoas a buscar alguma conexão com o natural.
Muito além do aspecto visual, a arquitetura biofílica contribui de inúmeras formas para a saúde e o bem-estar. E é esse assunto que vamos abordar neste artigo, acompanhe!
Arquitetura biofílica ao pé da letra
O termo Biofilia vem literalmente do grego bios, vida e philia, amor, que significa “amor pela vida”. O termo foi cunhado pelo etimologista e biólogo norte-americano Edward Osborne Wilson, que acredita que os seres humanos têm uma ligação emocional genética com a natureza.
De acordo com suas pesquisas, essa ligação tornou-se hereditária. Muito provavelmente pelo fato de que durante quase toda a nossa história não vivíamos em centros urbanos, mas sim, convivendo diretamente com a natureza.
Ou seja, a biofilia é a necessidade, quase que instintiva, que sentimos em estar diretamente em contato com a natureza, interagindo e nos relacionando com ela. Dessa forma, a arquitetura biofílica busca integrar a natureza aos ambientes, já que 90% do nosso tempo passamos em ambientes fechados.
É por isso que podemos dizer que a arquitetura biofílica é um novo olhar sobre a sustentabilidade, conforto e bem-estar. Uma das melhores experiências que podemos vivenciar enquanto seres humanos é a sensação do contato com a natureza. O verde e o meio-ambiente, em sua essência, têm um efeito transformador, trazendo sentimentos de paz, serenidade, conforto e leveza.
Os benefícios dessa relação do homem com o meio-ambiente vão muito além do campo subjetivo das sensações e emoções. O campo da pesquisa científica, que trata do objetivo e da matéria, tem reconhecido as vantagens de estar intimamente conectado a natureza.
Jardins curadores
Um dos primeiros a demonstrar – através de pesquisas científicas – que a natureza faz bem foi Roger Ulrich. Em 1984, o psicólogo americano publicou os resultados de uma pesquisa: ele revisou os prontuários e dados de pacientes que foram operados da vesícula em um hospital da Pensilvânia.
Analisou o quanto esses pacientes reclamavam de dor, chamavam os enfermeiros e pediam analgésicos ou outros remédios no pós-operatório.
A única diferença entre os dois grupos de pacientes era que eles ficaram alojados em alas distintas do hospital. Em uma delas, a vista da janela dava para um muro de tijolos, na outra, as janelas se abriam para um jardim.
Os resultados demonstraram que os pacientes com acesso ao verde saíram mais cedo do hospital, tomaram analgésicos mais fracos ou em menor quantidade, tinham menos comentários críticos sobre a enfermagem e menor número de pequenas complicações pós-cirúrgicas.
Depois, outros estudos testaram objetos coloridos, porém inanimados, no lugar de plantas, e verificaram que as plantas ofereciam benefícios ligeiramente maiores.
Com a pesquisa de Ulrich, citada como referência em centenas de trabalhos, muitos passaram a defender a implantação de mais áreas verdes em hospitais e até mesmo o contato com a natureza como uma forma de medicina preventiva.
Com o passar do tempo, foram realizadas pesquisas também nos escritórios, escolas e apartamentos, tanto sobre o uso da natureza no interior quanto ao ar livre.
A pesquisadora Tove Fjeld, da Universidade de Agricultura da Noruega, realizou um estudo em 2000 que mostrou que as reclamações de dores de garganta, por exemplo, reduziram 23% depois que um escritório foi decorado com plantas.
Já a pesquisadora Virginia Lohr, da Universidade do Estado de Washington, mostrou que a presença de plantas torna a dor mais suportável.
Aromas relaxantes
São muitos os resultados dos estudos elaborados cientificamente que dão embasamento aos benefícios da arquitetura biofílica.
Os pesquisadores da Universidade de Chiba, nos arredores de Tóquio, no Japão, por exemplo, já realizaram inúmeros estudos para entender de que forma a natureza poderia ser uma aliada da medicina preventiva – lembrando que o Japão é um dos lugares onde mais se estuda a relação entre a saúde a natureza.
A pesquisa, realizada em 2013 e liderada pelo professor Yoshifumi Miyazaki focou, mais especificamente, nos chamados fitocidas, que são os aromas dos óleos essenciais das plantas e das árvores das florestas.
Durante os estudos, os pesquisadores mediram a pressão arterial e as atividades cerebrais dos voluntários no momento em que respiravam o ar comum, depois, repetiam a experiência medindo a pressão arterial e a atividade cerebral enquanto respiravam o ar com o aroma da floresta e da árvore do Japão.
Após a coleta dos dados, eles compararam se houve um relaxamento e se houve alguma mudança nas funções.
A experiência tinha duração de dois minutos: o voluntário fecha os olhos e o fitocida começa a ser liberado – é um aroma leve e bem suave. O relaxamento que ocorre no momento em que o fitocida começa a ser liberado ficou muito evidente nos resultados.
Quando mergulhamos em uma floresta, de acordo com os pesquisadores, o nosso corpo se aproxima de um estado de bem estar que nos deixa mais resistentes.
A natureza traz muitos estímulos aos sentidos: a explosão de cores e formas, o canto de um pássaro, o doce de uma fruta, estar em contato tão próximo com o meio ambiente faz um bem enorme e todo mundo sabe!
A biofilia associada à arquitetura
Trazer o design biofílico para o projeto, como cores e texturas mais suaves, iluminação mais amena e difusa, materiais orgânicos e artesanais, colabora, juntamente ao paisagismo ou à composição de plantas nos espaços.
Dessa forma, alcançamos ambientes mais saudáveis, produtivos e simplesmente agradáveis.
A busca pelo bem-estar, neste momento, ocorre em todos os tipos de uso de ocupação dos espaços, sejam eles urbanos, comerciais, residenciais ou corporativos. Tomar como base a utilização do verde na estratégia de melhoria dos espaços, além do apelo estético, potencializa a percepção do positivo.
Confira agora 6 exemplos de construções biofílicas mais famosas e que são referência em projetos ao redor do mundo:
Jardins Suspensos
A associação é imediata: quando falamos em “jardins suspensos ou verticais”, lembramos imediatamente da antiga história sobre a Babilônia. Esta era a cidade central da Masopotâmia (hoje Iraque e Kuwait), o berço da atual civilização ocidental.
Seu auge ocorreu há mais de 3 mil anos a.C.. Segundo relatos passados de geração em geração, o Rei Nabucodonosor II teria mandado construir um grande monumento com jardins em estilo oriental. Porém, nunca houve qualquer registro oficial sobre os fatos, nem mesmo vestígios arqueológicos disso.
Tudo o que se sabe hoje a respeito da fama dos Jardins Suspensos da Babilônia começou após a análise de textos de autores como Beroso, de 290 a.C., que se preocupou em relatar alguns processos de arquitetura que eram desenvolvidos na época, comentando sobre uma grande construção de ordem do rei.
E o que foi relatado fez o mundo crer que os jardins, de fato, existiram. Uma ideia que se concretizou tanto no imaginário popular que vários artistas, posteriormente, interpretaram os jardins em suas obras. E, por fim, fez com que entrassem para a lista das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
Fazenda Urbana
Um dos princípios fundamentais do design biofílico é colocar o homem em contato com a natureza tanto quanto possível. Na Fazenda Urbana, que fica nos escritórios do Grupo Pasona, em Tóquio, é dado um passo além. Lá, é permitindo que os usuários dos espaços possam interagir ativamente com a natureza e cultivar os alimentos que vão saborear entre uma pausa e outra.
No projeto da Kono Designs, as culturas hidropônicas e terrestres tornam-se elementos espaciais, criando divisórias entre uma instalação e outra com o maracujá e o limoeiro, enquanto os tomates descem suavemente sobre as mesas.
É dessa forma que, nos espaços onde os funcionários passam a maior parte do tempo, se tornam agricultores e consumidores do próprio alimento.
Super Hospital
O hospital é um dos lugares onde as pessoas mais sentem a necessidade de “respirar vida”. Frequentemente, porém, também são locais arquitetonicamente muito básicos e tristes, o que acaba gerando influência negativa sobre os pacientes.
Não é o caso do Hospital Khoo Teck Puat, em Cingapura que, através de seus amplos corredores luminosos, permite um contato constante com a vegetação.
Uma recirculação do ar criada por aparelhos técnicos de vanguarda, traz melhores condições aos usuários, que também se reflete na recuperação dos pacientes. Um grande exemplo de como o contato com a vida e a natureza podem auxiliar também no tratamento de doenças.
Floresta Vertical
O projeto de Stefano Boeri Architetti e Barreca & La Varra, que fica em Milão, é considerado por muitos um protótipo das cidades do amanhã. Um dos mais belos arranha-céus do mundo, a Floresta Vertical é uma nova forma de pensar a verticalidade e colocá-la em contato com a natureza e o homem através de um sistema de torres que, segundo os projetistas, contém o equivalente a 10 mil metros quadrados de floresta.
Na base, um grande parque que acentua a atenção à vida e ao desejo de deixar a natureza entrar, mesmo em uma metrópole como Milão.
Jardim do Éden
Uma antiga pedreira de caulinita na Cornualha, Reino Unido, tornou-se palco do recriar através do projeto da Grimshaw, liderada pelo arquiteto Nicholas Grimshaw. O sistema consiste em duas das maiores biosferas do mundo, dois biomas, ou seja, grandes porções da biosfera, por meio dos quais é possível estudar, cruzar e tocar a fauna e a flora do ambiente tropical e do Mediterrâneo.
Duas cúpulas gigantescas de aço e plástico formam um sistema com um imenso jardim externo, que abriga quase dois mil diferentes tipos de vegetação, o Núcleo – que é o centro educacional do complexo – e o teatro, onde acontecem importantes eventos culturais.
Tecnologia e natureza
O One Central Park, do Atelier Jean Nouvel, em Sydney, parece um edifício de aço e vidro “contaminado”, em sua totalidade, por plantas e arbustos nativos que lentamente envolvem a estrutura.
Existem muitos recursos e inovações no edifício, incluindo um grande heliostato em balanço, que captura os raios do sol a qualquer hora do dia. Além de um sistema interno de reciclagem de água e uma usina de baixo carbono.
Um imponente sistema de espelhos motorizados capta a luz do sol e a reflete nos jardins internos do edifício. Ao pôr do sol, uma grande instalação de LED do artista Yann Karsalé ganha vida, dando um show emocionante para quem olha para cima.
Ficou interessado em aplicar a biofilia ao seu projeto? Converse com a equipe ARCHSCAPE! Temos as soluções mais criativas para atender as suas necessidades.