A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que saúde é um “estado completo de bem-estar físico, mental e social”, não apenas o estado de ausência de doenças. Nesse contexto, um crescente número de pesquisas nas mais diversas áreas de conhecimento – que vai da arquitetura à saúde -, acumulam evidências científicas de que o contato e, sobretudo, a conexão com a natureza trazem benefícios à nossa saúde em muitos graus.
Nos últimos tempos, as limitações impostas pela quarentena, têm nos privado desse contato e essa ausência tem sido profundamente sentida.
Como você já viu neste artigo, biofilia é o termo utilizado para os estudos e ações que conectam a nossa necessidade de estar em contato com a natureza mesmo em ambientes modernos e projetados pelos homens.
Os estudos nessa área começaram na década de 1960, mas ganharam força nos anos 80 com resultado de pesquisas científicas publicadas em revistas de referência.
Já se passaram mais de 30 anos desde o estudo pioneiro do Professor Roger Ulrich (um dos pesquisadores mais citados na biofilia), publicado na prestigiada revista Science, demonstrando que a natureza é capaz de promover um ambiente restaurador para a saúde humana, mesmo em pacientes cirúrgicos internados.
Seus resultados demonstram que, pessoas internadas em quartos com vista para áreas verdes, tiveram menor tempo de internação e menor requisição de analgésicos em relação aos que tinham vista para construções.
Diante dessas evidências científicas, os arquitetos paisagistas e designers de interiores se voltaram com dedicação para o tema, e vem apresentando cada vez mais soluções criativas de ambientes totalmente integrados com a natureza.
Neste artigo, vamos mostrar para você como o paisagismo tem o poder transformador no ambiente, proporcionando esta conexão com a natureza para quem mora ou trabalha no espaço. Além de explicar de que forma o paisagismo é pensado e aplicado para que se chegue neste resultado. Confira!
O poder transformador do paisagismo em espaços integrados
Um exercício essencial do arquiteto é lidar com o contexto onde está inserido o projeto, seja excluindo ou incorporando os elementos preexistentes e todas as características naturais da área.
Entender o que há em volta é fator determinante nos desenhos e organizações do espaço, e vai muito além de apenas considerar uma boa vista, ventilação ou iluminação natural. Trata-se de enxergar essas condições e incluí-las como parte criativa no projeto.
É por isso que arquitetura e paisagismo andam juntas ao criar experiências memoráveis na transição entre ambientes internos e externos, bem como áreas de lazer ou convívio coletivo. Nesse sentido, ambientes integrados com a natureza são fortes aliados na criação de espaços mais fluidos e aconchegantes.
Daí a importância da arquitetura biofílica: na intenção deliberada de traduzir para o ambiente construído a inclinação nata do ser humano em se sentir bem em contato com a natureza.
Este novo conceito em trabalhar o ambiente construído tem por objetivo conceber espaços capazes de promoverem a saúde, o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas, que passam a ser entendidas como organismos vivos, inseridos em um sistema natural do qual fazem parte.
Muito mais do que um luxo, o contato com o ambiente natural é entendido como uma necessidade para a saúde física e mental do homem contemporâneo. Porém, a arquitetura biofílica tem por fundamento reimaginar a relação entre homem e natureza, com o objetivo de enriquecer tanto um quanto outro, em uma relação de integridade e adaptação, não mais de degradação e subjugação.
A arquitetura biofílica propõe trazer a natureza para o desenho de forma consciente, incluindo sistemas e processos naturais em edifícios e paisagens construídas.
Dessa maneira, podemos conectar inconscientemente o espaço construído com o mundo natural, não apenas inserindo um objeto da natureza em um ambiente construído, mas criando um habitat que funcione no melhor interesse do ecossistema.
Um dos precursores do design biofílico, Stephen Kellert, montou um esquema com seis elementos e mais de setenta atributos que têm como finalidade implementar experiências biofílicas. Porém, em 2017 Kellert, em parceria com a arquiteta Elizabeth Calabrese, simplificaram o esquema e estabeleceram os três pilares do design biofílico.
#1. Experiência direta com a natureza
- luz
- ar
- água
- plantas
- animais
- materiais naturais
- clima
- paisagens naturais e ecossistemas
- fogo
#2. Experiência indireta com a natureza
- imagens da natureza
- materiais naturais
- cores naturais
- simulação natural de luz e ar
- formas naturais
- evocando a natureza
- riqueza de informação
- idade, mudança e detonação do tempo
- geometrias naturais
- biomimética
#3. Experiência de espaço e lugar
- prospecção e refúgio
- complexidade organizada
- idade, mudança e detonação do tempo
- espaços de transição
- mobilidade e orientação
- vínculos culturais e ecológicos com o local
Mas, afinal, como aplicar a biofilia na arquitetura?
Confira alguns exemplos práticos dentro desses grupos e de como aplicar alguns desses padrões em seus projetos:
Conexão visual e não visual com a natureza: alguns edifícios possuem janelas com vistas privilegiadas para paisagens arrebatadoras do oceano ou uma abundância de árvores.
Mas, outros não. Ao criar projetos para locais mais urbanos, os arquitetos paisagistas podem optar por projetar espaços de pátio ou jardim com árvores nativas, por exemplo, para oferecer aos ocupantes vistas agradáveis e acesso à natureza.
Variação térmica e de fluxo de ar: as pessoas que passam a maior parte do tempo em ambientes fechados, geralmente fazem uma pausa para “tomar um ar”.
Os projetos podem atender a esse anseio usando recursos da biofilia, com muitas janelas, portas de correr que se abrem para áreas externas, claraboias ou sistemas que ajudam a promover uma troca de ar saudável.
Luz dinâmica e difusa: o acesso á luz natural é um fator grande a ser considerado no bem-estar das pessoas. Aproveitar a variação de intensidade de luz e da sombra que muda ao longo do tempo recria condições semelhantes as que acontecem na natureza.
Embora fornecer muitas janelas seja a solução mais simples para isso, nem sempre é possível. Algumas alternativas para resolver o problema incluem a implantação de tubos solares ou átrios que permitem que a luz natural difusa penetre nos espaços interiores.
Paredes e telhados verdes: esses sistemas não apenas acrescentam oportunidades visuais para se conectar a natureza, mas também colaboram com o meio ambiente. Uma fachada verde colocada sobre uma parede existente ou uma “parede viva” composta de plantas pode ajudar a reduzir o efeito da ilha de calor urbano.
Em climas quentes, um telhado verde atua como um fator de resfriamento, evitando a penetração da luz solar. Já em climas mais frios, fornece maior isolamento, o que resulta em menor demanda de aquecimento.
Refúgio: o descanso é tão importante quanto o esforço para aumentar a produtividade. É por isso que a criação de espaços para descanso ou cura, que permita as pessoas recarregarem as energias também faz parte do design biofílico.
Relações de cultura e local: as relações afetivas também são consideradas na biofilia. Através da familiaridade, gera-se o sentimento de pertencimento e cuidado. Essa sensação pode ser destacada pela geografia, através da valorização da vegetação local. É possível destacar essa vegetação com vistas, jardins e paisagismo. Ou até na forma das construções inspirada nas formas da vegetação.
Padrões e processos naturais: esse item remete às diferentes sensações que a natureza nos proporciona. Essa variabilidade sensorial pode ser representada por sons, cheiros, texturas e experiências. Em ambientes amplos, a riqueza de informações pode encorajar as pessoas a explorarem o local.
Por outro lado, espaços delimitados e menores passam a sensação de segurança. Na biofilia, os padrões e formas podem ser planejados para facilitar a leitura dos espaços. Outro fator é a idade e a denotação do tempo. Elementos que contam histórias através da aparência valorizam a cultura local.
Da mesma maneira, elementos naturais que crescem e se transformam com o tempo geram um sentimento de prazer e satisfação.
Panorama: projetar espaços com uma visão aberta à distância com o intuito de estimular a vigilância e o planejamento. Os elementos que melhor representam isso incluem a adição de varandas, janelas ou claraboias grandes, mezaninos, espaços de plano aberto ou transparências que proporcionam vistas ininterruptas.
Relações humanas com a natureza: você já parou para pensar nos sentimentos que a natureza transmite? Por exemplo, ao ver uma cachoeira muito grande, você já sentiu medo? Alguns elementos naturais imponentes como esse causam sentimento de reverência e respeito.
A busca pela beleza e atração nos espaços sempre foi natural do ser humano. Locais bonitos estimulam nossa curiosidade e imaginação. Ao passo que locais que demonstram a engenhosidade humana geram confiança e autoestima. Espaços fechados e cobertos transmitem segurança e acolhimento. Já lugares muito complexos, com excessos de cores e formas podem causar confusão.
Se você pretende aplicar estes preceitos no seu projeto, a primeira coisa a fazer é prestar atenção nos sentimentos que você deseja gerar. Com um propósito definido, é mais fácil alinhar quais aspectos serão mais importantes.
A biofilia é uma forma de criar espaços que respeitam as pessoas. Ela transforma a nossa relação com o ambiente construído, além de garantir vantagens econômicas, sociais e ambientais. Desta forma, percebemos que a biofilia é também uma grande aliada da sustentabilidade.
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