tendencias de design e paisagismo 2022

Todo ano que se inicia traz aquele sentimento de que há algo a ser renovado, no design e paisagismo isso não é diferente. A palavra renovação em si, exprime duplo significado: inspira a mudança e ao mesmo tempo traz consigo a persistência da tradição, da continuidade de tudo que está dando certo.

Na arquitetura, paisagismo e decoração, assim como na moda e alguns outros nichos que trazem arte embarcada, é hora da observação crítica e profissional para vislumbrar o horizonte das mudanças, as tendências!

Alguns ítens como a atenção com a sustentabilidade, o design biofílico, o olhar atento ao pedestre, são questões que persistem, pois ainda estão no ciclo de adoções. Contudo, entram no radar do horizonte próximo, as novas tecnologias e datas importantes para as profissões que orbitam o design e a arquitetura.

O centenário da semana de arte moderna incentivará novamente a quebra de paradigma através da arte, o bicentenário da independência reforçará a reafirmação de nossa cultura, flora e costumes.

Dito isso tudo, seguem as principais tendências para o paisagismo em 2022, especialmente elaboradas pela equipe da Archscape.

1- Comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.

A semana de arte moderna foi um intento realizado em 1922 que trouxe grandes quebras de paradigma no trabalho artístico. O culto a brasilidade e a ruptura com o academicismo e o tradicionalismo, assim como a aceitação das influências artísticas europeias, formaram um caldo que movimentou para sempre as artes brasileiras. Um grande destaque foi o quadro Abaporu de Anita Malfatti, cuja ruptura com padrões vigentes ficou nítida.

O primeiro impacto nas artes plásticas, logo se espalhou pela arquitetura e pouco depois para o  paisagismo.

Apostar na arte para quebrar paradigmas nos projetos será um caminho interessante a ser explorado. Imagine bancos com formas esculturais, os pisos com grafismos elaborados, trazer o colorido para as quadras esportivas, como fez o artista americano Scott Albrecht em uma intervenção no Lincoln Park em Nova York. Bem, as possibilidades são infinitas, mas uma coisa é certa: a arte invadirá múltiplos espaços.

2- A flora nativa como centro das atenções.

A reafirmação de nossa flora estará em alta como nunca. A exploração meticulosa da flora nativa nos projetos, observando o bioma onde se está inserido será muito valorizado. Isso não se restringe só à Mata Atlântica, mas também Cerrado, Restinga, Caatinga. Estudar estes biomas para elaborar novas composições paisagísticas será um caminho extremamente interessante.

3- Costumes brasileiros ditando os layouts para os projetos.

Explorar layouts com redes de balanço, espaços com fogões a lenha, áreas avarandadas estarão em grande ênfase nos novos projetos. É o culto às tradições centenárias invadindo os espaços modernos. As técnicas tradicionais serão fortemente valorizadas na escolha de peças de mobiliário de design que exprimem brasilidade. Estarão em alta não só os clássicos de Sérgio Rodrigues , Zanine Caldas, Lina Bo Bardi, mas também talentos emergentes como Rodrigo Silveira, Pedro Petry ,Eduardo Miguel Pardo, dentre outros.

4- Valorização da mistura de madeiras nativas e de procedência

A exploração de um só tipo de madeira como tendência, levou à extinção de muitas espécies. Isso ocorreu pelo fato da madeira específica ser explorada direto de matas nativas, sem nenhum cuidado de manejo. Ou seja, para se derrubar um só Jacarandá, por exemplo, o trator arrasta cerca de 50 outras árvores, totalmente ignoradas. Alguns designers, como Maurício Azeredo, foram precursores na pesquisa das espécies nativas que antes eram descartadas e descobriu um sem fim de cores e texturas, aplicando-as a seus projetos. Esse trabalho tem inspirado muitos designers hoje a buscar um extrativismo seletivo, procurando por projetos de reflorestamento nativo e realizando trabalho com comunidades locais e indígenas.

O público consumidor de paisagismo está cada vez mais conscientizado desses impactos na natureza e se preocupar com a procedência da madeira e tirar partido da riqueza das combinações nos projetos está cada vez mais em voga.

Além de ser tendência, virou lei desde 2019 para a madeira nativa usada em obras, serviços e aquisições na administração pública.

6- Mosaicos e caquinhos voltam ao design e paisagismo

De volta para a casa da avó. Um verdadeiro clássico da arquitetura brasileira das décadas de 1940 e 1950, o piso em mosaico de caquinhos cerâmicos está de volta. O visual é formado por pedacinhos de revestimentos cerâmicos que se completam dando a sensação de mosaico. Ainda hoje são encontrados em pisos e paredes de muitas casas brasileiras, sobretudo nos bairros antigos e residenciais. Estes pisos sempre foram lembrados, agora pouco a pouco têm sido introduzidos em projetos modernos e prometem agitar o visual. E vale também sofisticar: azulejos artesanais, como os da Lurca ou do Estúdio Mosaico, por exemplo, trazem este toque retrô e artístico, criando belíssimas composições artísticas, bem em sintonia com o tempo em que vivemos.

7- Composição de vasos com estruturas aramadas

Também direto da década de 50, os suportes metálicos voltaram com toda força e com muito mais riqueza para suspender os vários tipos de vasos disponíveis no mercado: vasos ovais, oblongos, jardineiras com cantos arredondados, remetendo ao art deco, etc. A regra de qualquer forma é: tirar os vasos do chão. E na composição vegetal, utilizar plantas com folhagens grandes e pendentes. Muito além dos espaços interiores, montar composições de vasos suspensos em pisos externos cai muito bem, somente tomando cuidado na correta especificação da planta de acordo com a incidência solar.

8- Maior ênfase no valor do espaço ao ar livre

As pessoas darão maior valor aos espaços ao ar livre como lugares para se exercitar, relaxar, conhecer, jantar e recrear. As indústrias (especialmente artes e entretenimento) começarão a ver eventos menores ao ar livre como formas de levar as pessoas a comparecer confortavelmente. Isto pode sobrecarregar os parques e espaços abertos nas cidades.
Os arquitetos paisagistas precisarão planejar e projetar mais espaços abertos que possam facilitar usos múltiplos.

9- Conservar e restaurar os ecossistemas

A conservação e restauração de matas, independente de sua extensão, é uma tendência que seguirá por gerações. Em algumas partes do mundo será necessária a ação de arquitetos paisagistas, ecologistas e outros planejadores ambientais a seguir com a conscientização de governos e empresas sobre a importância do tema.

Não  há mais espaço para o desenvolvimento excessivo. A necessidade agora é a de aumentar a biodiversidade, não apenas de plantas, mas também a conservação do solo, para o surgimento de ecossistemas mais saudáveis para pessoas e animais.

10- Cidades de 15 minutos

A ideia foi desenvolvida por Carlos Moreno, urbanista e docente de Sorbonne na França, ele foi o primeiro a divulgar os conceitos de “hiper proximidade” e “crono-desenvolvimento” . O foco principal consiste em planejar cidades em que seja possível fazer praticamente tudo a 15 minutos de distância a pé ou bicicleta, em detrimento dos modelos atuais que concentram moradias distantes e periféricas, ruas entupidas de carros, etc.

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo usou o argumento como principal bandeira em sua campanha. Como os olhos voltados para Paris nas olimpíadas de 2024 e planos já em curso inspirados nas cidades de 15 minutos, podemos apontar como uma tendência a ser acompanhada e desenvolvida em outras partes do mundo.

Gustavo Garrido é arquiteto e dirige a Archscape, escritório de arquitetura que tem em seu portfólio uma extensa lista de grandes cases nas áreas de paisagismo, arquitetura biofílica, urbanismo inteligente e espaços diversos.

Um exemplo inspirador em nossa foto de destaque! As quadras fantásticas que existem nos EUA, concebidas por Scott Albrecht
Artwork: Scott Albrecht
Photo: Daniel Peterson/ Project Backboard