gustavo garrido CEO e founder da archscape arquitetura e paisagismo

O post de hoje inaugura nosso canal de entrevistas. Começaremos de dentro pra fora, entrevistando o arquiteto chefe da Archscape, Gustavo Garrido.

Gustavo Garrido é arquiteto, formado na FAU USP em São Paulo. Foi também nos tempos de faculdade, que descobriu o gosto pela arquitetura paisagística. Desde o primeiro ano seu interesse se formava no desenho do espaço livre. Como pesquisador na universidade, se aprofundou no tema até que começou a trabalhar com um renomado paisagista.

Logo depois de formado, integrou o time da DW/Santana, a filial brasileira da Design Workshop, renomado escritório americano de arquitetura paisagística. Conduziu trabalhos que passaram a moldar sua formação profissional. Entre os destaques: a Vila Pan-americana, o Rochaverá Corporate Towers e o Infinity Towers. Esses dois últimos em especial estão em São Paulo e se constituíram em cooperação junto a escritórios de arquitetura internacionais.

De lá para cá, vieram planos de urbanização em diversas cidades brasileiras, complexos hoteleiros e comerciais, além de projetos de arquitetura e paisagismo para residências e conjuntos de edifícios multifamiliares.

A habilidade de trabalhar e de intervir na paisagem é uma atribuição exclusiva do arquiteto paisagista?

Depende da abrangência que estamos falando. O arquiteto paisagista compartilha sua atuação com geógrafos no planejamento urbano. Compartilha com engenheiros agrônomos em se tratando de recomposição florestal. Contudo, o arquiteto é o único profissional com formação para moldar o espaço de forma adequada às necessidades das pessoas e isso faz toda a diferença.
Uma coisa é você dizer quantas e quais árvores serão plantadas, outra é dispor delas, juntamente com espaços de estar e lazer, pensando no uso pelas pessoas. É bem diferente, pois entram na pauta questões como ergonomia, acessibilidade, iluminação, desempenho de materiais, idealização de cenários, sensações e demais assuntos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, existe inclusive uma formação especializada em arquitetura da paisagem, completando e aprofundando a formação do arquiteto para as questões específicas do espaço livre.

Cite algumas características que tornam o paisagismo um assunto tão evidente ultimamente.

A preocupação com a preservação ambiental e mais recentemente o confinamento causado pela pandemia, descortinou nas pessoas essa necessidade de desfrutar do espaço livre, de morar em uma casa, com quintal, jardim, ou mesmo de descobrir novos parques, praças, reforçar enfim o contato com a natureza . E isso tem tudo a ver com o trabalho de paisagismo. E Para nós que atuamos na área é necessário uma maior divulgação da importância deste trabalho que desenvolvemos e como podemos ajudar as pessoas a realizarem esse desejo de maior contato com a natureza.

Quais são suas principais referências estéticas? (podem ser outros arquitetos, obras e paisagistas).

Gosto muito da metodologia que os escritórios americanos utilizam e procuro fazer o mesmo, escritórios como a própria Design Workshop e a a SWA são empresas ativamente atuantes e com excelentes trabalhos.

Os holandeses da West 8 quebraram muitos paradigmas na virada do século, destacando o projeto Madrid Rio, na capital espanhola.

Temos também na China, o escritório do PHD em Harvard, Dr. Kongjian Yu, o Turenscape, com projetos com destaque para os elementos construídos, temos o Diller Scofidio & Renfro, autores do famoso High Line de Nova York e por último e não menos importante o fantástico trabalho de Roberto Burle Marx, seja no desenho elaborado ou no uso da vegetação nativa brasileira.

Trabalhar em uma cidade tão vertical e concreta como São Paulo favorece ou atrapalha a criatividade no paisagismo arquitetônico?

O fato de ser vertical não acredito que atrapalhe, pois temos muitos trabalhos para as áreas de lazer desses grandes condomínios.

Independente disso o mais importante no meu ponto de vista é o poder público incentivar a criação de áreas verdes, de estabelecer planejamento da paisagem urbana, de melhoria dos espaços para o pedestre, criando condições e incentivos para agentes privados participarem, abrindo mais oportunidades para os profissionais e trazendo mais qualidade de vida para as pessoas.

Ao pensar em paisagismo residencial ou corporativo, quando contratar um arquiteto e quando optar por jardinagem?

Quando falamos em planejar qualquer empreendimento torna-se obrigatória a atuação do arquiteto, ainda mais se temos uma utilização do espaço livre para o lazer. Se pensarmos apenas em contemplação e o jardim for implantado em terreno natural, o trabalho de jardinagem pode bastar. Contudo acredito que se perca uma oportunidade valiosa de contribuição do trabalho do arquiteto, para a pré visualização, trabalho com luz e sombra e toda conformação espacial que a vegetação agrega ao espaço.

A jardinagem sim é fundamental no sentido da manutenção dos espaços verdes depois de construídos.

O que você considera um grande diferencial competitivo do escritório de arquitetura Archscape?

Certamente a metodologia com que lidamos com os projetos, colocando a arte como ferramenta central do processo.

Enxergar o mundo com olhar artístico é um exercício mais trabalhoso porém com resultados muito acima da média, mas requer experiência e repertório. Desenhar a paisagem não é para nós um conceito abstrato, redesenhamos realmente a topografia de um terreno se necessário. Cuidamos para que esse desenho mantenha relação com os diversos elementos do projeto: edificações, piscinas, caminhos, vegetação se complementam e fazem sentido juntos, tanto artisticamente como funcionalmente. É como gostamos de trabalhar.

Quais os tipos mais comuns de projetos de paisagismo?

Os mais demandados para nós são os espaços de uso comum de loteamentos, condomínios e residências com grandes terrenos. Menos frequente mas muito empolgantes são os projetos de parques e resorts que também desenvolvemos.

Quais são os projetos que você mais gosta de trabalhar?

Sem dúvida são aqueles em que temos espaços generosos a tratar, como praças urbanas, parques e espaços turísticos. Contudo, uma residência com grande terreno ou uma fazenda também são desafios muito interessantes.

Como você descreveria a importância da arquitetura paisagística nas cidades em crescimento acelerado?

O crescimento acelerado gera problemas de congestionamento, degradação ambiental, ilhas de calor, insuficiência de infra estrutura, precariedade de habitação e tudo se torna muito urgente. As ferramentas para lidar com isso compreendem tanto medidas de médio prazo, por meio da promulgação dos planos diretores e lei de uso e ocupação do solo, como ações pontuais, tais como mecanismos de compensação ambiental, promoção de arborização urbana, criação de parques e áreas de lazer e promoção de turismo relacionado à natureza.

Podemos dizer assim que a arquitetura paisagística é fundamental para a promoção da qualidade de vida das pessoas já que seu foco principal é promoção da transformação do espaço livre em harmonia com o meio ambiente.

Como você enxerga o paisagismo arquitetônico como forma de valorizar imóveis e empreendimentos?

As pessoas hoje em dia compreendem mais do que nunca que uma vida saudável está intimamente relacionada a uma relação harmoniosa com a natureza e inclusive estão dispostas a investir mais para ter isso.

Assim quanto mais se investe na qualidade das áreas livres, mais valor é percebido pelas pessoas, tornando o empreendimento um objeto de desejo de estilo de vida.