Compatibilização: essa palavra por vezes desconhecida para o público leigo, representa na verdade uma questão fundamental na construção civil. Devido à complexidade atual dos sistemas dentro da arquitetura e dos processos construtivos, a compatibilização construtiva entre as especialidades é fundamental para a viabilidade econômica dos empreendimentos.

Esta atividade corresponde, numa explicação simples, da verificação contínua das informações constantes nos vários projetos que compõem um empreendimento e pode ser feita antes do início da obra (preferencialmente) ou concomitantemente a ela, quando não se tem todas as definições. Em edificações, tudo se inicia na arquitetura, a qual dá o tom da forma e função e as demais disciplinas se seguem complementando. Portanto, um ponto de ar condicionado previsto pela arquitetura deve ser atendido nos projetos específicos de climatização, e de elétrica e não conflitar com o projeto estrutural.apron wish lightweight golf shoes schuhe fila imiteret skind nederdel pantuflas hombre neon nylon

Contudo, o que parece ser razoavelmente fácil de entender no edifício, complica-se em grande escala nos pavimentos de lazer descobertos, seja sobre solo natural (no chão, digamos), seja em pavimentos sobre uma das lajes.

A arquitetura paisagística entra em cena

Hoje em dia, apesar de empresas especializadas em compatibilização se consolidarem no mercado como uma disciplina independente, quando falamos das áreas de lazer, é fundamental o conhecimento especializado de arquitetura paisagística, principalmente pela grande variação de abordagens de projeto, muito maior do que temos num andar tipo de um prédio.

Alvenarias, sistemas estruturais, impermeabilização, drenagem superficial, sistemas de irrigação, sistemas elétricos e hidráulicos, captação de águas pluviais, terraplanagem, fundações, iluminação, serralheria, carpintaria, tudo isso precisa conviver com as árvores, arbustos e forrações propostas no projeto. Além dos sistemas em si, normas específicas precisam ser seguidas, não só acessibilidade e a norma de paisagismo, mas também outras que regram a construção de playgrounds, piscinas, quadras esportivas e demais equipamentos de lazer.

Falta de conhecimento específico

Por mais que as empresas especializadas em compatibilização estejam acostumadas ao trabalho em edifícios, nas áreas de lazer é recomendado o acompanhamento do autor do projeto paisagístico, por todo conhecimento específico que envolve, principalmente com o foco em relação às plantas.

Da mesma forma que a arquitetura da o tom nas edificações, o paisagismo precisa ser alçado ao status de disciplina mestre nos projetos mais complexos de áreas de lazer, conduzindo os processos de evolução dos projetos, construindo as definições com os demais stakeholders, para que ao fim se alcance o resultado previsto no projeto.

A natureza agradece.

Ao explorar o urbanismo em Berlim, somos imersos em um exemplo extraordinário de qualidade de vida urbana. Berlim, a capital alemã, é uma cidade que se destaca não apenas por sua arquitetura impressionante e história rica, mas também por seus espaços públicos bem planejados que promovem o bem-estar de seus habitantes.apron wish lightweight golf shoes schuhe fila imiteret skind nederdel pantuflas hombre neon nylon 

 Um Passeio pelas Calçadas Padronizadas

As calçadas em Berlim são um verdadeiro espetáculo de urbanismo. Elas são padronizadas e projetadas com cuidado, considerando a experiência das pessoas. O desenho dos pisos faz mais do que simplesmente guiar os passos; eles servem como guias intuitivos. As calçadas largas, com cerca de 7 metros, proporcionam espaço suficiente para pedestres e tornam a caminhada uma experiência agradável. Os materiais escolhidos para as calçadas, como granito e cimento, são de alta qualidade, garantindo durabilidade e estética.

 Ciclovias Seguras e Eficientes

Berlim também investiu em ciclovias seguras, que são integradas às calçadas, proporcionando uma alternativa sustentável e segura de transporte. Essa abordagem separa as bicicletas da via de carros, reduzindo o risco de acidentes e incentivando o uso de bicicletas como meio de locomoção. 

Fotos: Gustavo Garrido

 Uma Rede de Transporte Exemplar

A cidade possui uma rede de transporte ampla e interligada, que inclui ônibus, bonde, metrô, trem e até mesmo bicicletas públicas. Essa variedade de opções torna o deslocamento na cidade conveniente e eficiente, atendendo às necessidades de todos os habitantes.

 Memória Preservada nas Ruas

A história de Berlim está marcada nas ruas da cidade, por meio de materiais e esculturas. Essa abordagem não apenas preserva a memória da cidade, mas também adiciona uma dimensão artística às ruas e praças. É um lembrete constante da rica herança cultural de Berlim.

Esses são apenas alguns aspectos do urbanismo exemplar de Berlim que fazem a diferença na qualidade de vida urbana. Este exemplo inspirador demonstra como o planejamento urbano cuidadoso e a atenção aos detalhes podem criar uma cidade vibrante e acolhedora.

FAQs

  1. Qual é a largura média das calçadas em Berlim?

   – As calçadas em Berlim têm cerca de 10 metros de largura, proporcionando amplo espaço para pedestres.

  1. Como as calçadas são projetadas para orientar as pessoas?

   – As calçadas são projetadas com materiais de qualidade, como granito e cimento, que intuitivamente orientam as pessoas. Por exemplo, na faixa livre, o piso é mais liso, enquanto na faixa de serviço junto ao meio-fio, há um piso ligeiramente irregular.

  1. Por que as ciclovias são seguras em Berlim?

   – As ciclovias em Berlim são integradas às calçadas, separando-as das vias de carros, o que reduz o risco de acidentes.

  1. Que tipos de transporte público estão disponíveis em Berlim?

   – Berlim oferece uma ampla rede de transporte público, incluindo ônibus, bonde, metrô, trem e bicicletas públicas.

  1. Como a história da cidade é preservada nas ruas de Berlim?

   – A história de Berlim é preservada por meio de materiais e esculturas nas ruas, adicionando uma dimensão artística à cidade.

Berlim é um exemplo notável de urbanismo que prioriza a qualidade de vida urbana. Seus espaços públicos bem planejados, calçadas largas, ciclovias seguras e rede de transporte interligada criam uma cidade que valoriza o bem-estar de seus habitantes. Ao olharmos para Berlim, podemos encontrar inspiração para tornar nossas próprias cidades mais acolhedoras e vibrantes.

Gustavo Garrido é diretor da Archscape, Arquiteto e Urbanista pela FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) em 2003, pós graduação pela FUPAM (Fundação para Pesquisa Ambiental) em Desenvolvimento Imobiliário em 2008.

Autor de publicações na área de paisagem e ambiente, atua no mercado imobiliário desde 2004.

Atualmente é presidente da ASBEA-SP (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura, regional São Paulo).

 

Engana-se muito quem pensa que arquitetura sustentável se baseia apenas em prédios bonitos, com terraços verdes e iluminação natural. Construções sustentáveis vão além do paisagismo e preocupação com o consumo de energia e água. Esse tipo de tema é multidisciplinar, abrange várias áreas e tem papel fundamental de auxiliar na saúde e qualidade de vida de seus usuários.

Com a questão sustentável ganhando cada vez mais força pelo mundo, muito se discute sobre o que pode ser feito para preservar o meio ambiente. Somam-se também o desenvolvimento das relações sociais e interpessoais dos moradores, além de outro aspecto primordial da vida nas cidades: a mobilidade urbana.

Neste artigo vamos falar um pouco sobre a relação da arquitetura sustentável e a mobilidade urbana, entendendo como ambas se complementam. Acompanhe!

Responsabilidade ambiental em destaque

Você pode ter uma ideia geral, mas é importante definir o conceito acerca desse tema. A arquitetura sustentável está relacionada a projetos que buscam otimizar recursos naturais e diminuir os impactos ambientais que as obras geram.

Os princípios da arquitetura sustentável se confundem com os princípios da boa arquitetura: analisar os entornos, as condições climáticas e atender as necessidades do usuário, respeitando o meio ambiente.

Uma das prioridades é a utilização de recursos de origem natural, além de serem adquiridos de fornecedores que trabalhem de forma consciente. Os produtores locais também são valorizados, para evitar que o transporte vindo de longe cause mais emissão de CO2.

Neste âmbito, também há uma grande preocupação com o melhor uso da água, sensores em torneiras, aquecedores ou placas solares. Logo, sempre traz formas de reaproveitar o que já está disponível.

O Green Building Council (GBC) aponta o Brasil como o quarto país com mais construções sustentáveis. Estamos apenas atrás de países como os Estados Unidos, a China e os Emirados Árabes. O fato é que esse modelo de arquitetura não poupa apenas o meio ambiente. Ele vem trazendo mais qualidade de vida para os moradores e seus vizinhos, mostrando também um proveito social.

Dessa forma, a relevância da arquitetura sustentável começa na preservação do meio ambiente e avança para o bem-estar da comunidade. Pensar em arquitetura sustentável é uma forma de incentivar um equilíbrio social, favorecendo todos à volta da construção. Com isso, quando se usa apenas os recursos necessários, outras pessoas podem aproveitar também com o passar dos anos.

Podemos destacar os princípios da arquitetura sustentável como:

  • Observar o entorno;
  • Respeitar as limitações do local;
  • Planejar de forma integrada;
  • Se atentar às condições climáticas;
  • Promover praticidade ao usuário;
  • Seguir as normas e regulamentações vigentes;
  • Incentivar o uso consciente de recursos e materiais.

Como vemos, a implantação da arquitetura sustentável requer um amplo trabalho de pesquisa e planejamento, que acabam por orientar as decisões e promover sempre as melhores soluções, tanto para o meio ambiente, quanto para as pessoas envolvidas.

Para nossa saúde contudo, as vantagens de morar em uma edificação sustentável acabam quando se gasta horas tensas do dia no trânsito pesado dentro de um automóvel e poluindo o meio ambiente.

Facilidade para se mover

Você sabia que a Mobilidade Urbana é definida como a condição que permite o deslocamento das pessoas em uma cidade, com o objetivo de promover relações sociais e econômicas? Ônibus, metrô, outros transportes coletivos e carros fazem parte das soluções de mobilidade.

Ao pé da letra, mobilidade significa “facilidade para se mover”. Na teoria, traz a ideia de tornar esse movimento fluido e prático, mas o que pudemos perceber é que as cidades estão perdendo a capacidade de permitir que as pessoas se movam com qualidade.

É por isso que o tema mobilidade urbana passou a ser repensado. Muitos profissionais e pesquisadores do tema buscam trazer de volta o seu sentido primário e original, para melhorar a qualidade de vida das pessoas de forma sustentável.

Provavelmente você já ouviu falar em plano de mobilidade urbana: trata-se de um conjunto de diretrizes pensadas para melhorar o deslocamento sustentável das pessoas em uma cidade, sempre observando os resultados positivos na qualidade de vida das pessoas.

As propostas buscam garantir acessibilidade, segurança, eficiência, qualidade de vida e dinamismo econômico, além de inclusão social e preservação do meio ambiente. Este último aspecto é muito importante para diminuir os impactos sobre o meio ambiente em médio e longo prazo para as cidades.

O crescimento populacional e a alta concentração de pessoas nas cidades impõem grandes desafios à mobilidade urbana. Atualmente, metade dos sete bilhões de habitantes do planeta já vivem em metrópoles e a projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) é que esse índice chegue a 70% em 2050.

Garantir que todas as pessoas consigam fazer seus deslocamentos diários de forma rápida, eficiente e sustentável ainda é um ideal longe de ser alcançado em muitos lugares do mundo.

O que é mobilidade urbana sustentável?

A mobilidade urbana sustentável busca mudanças e soluções ao transporte tradicional, envolvendo veículos particulares, transportes coletivos e também veículos não motorizados, como a bicicleta. Tudo isso, é claro, sem esquecer do pedestre. Afinal, nossos pés também são meio de transporte para curtas distâncias.

A necessidade de desenvolver e transformar a mobilidade urbana não é novidade. Porém, com o passar do tempo e o aumento da concentração de pessoas nos grandes centros, outro problema passou a fazer parte dessa discussão: a sustentabilidade.

A mobilidade urbana está diretamente ligada ao tipo de transporte usado para o deslocamento de pessoas. Somado a isso, está também a preocupação em facilitar trajetos, considerando amenizar impactos ambientais causados por combustíveis fósseis que degradam o ambiente, por exemplo.

Algumas das soluções apresentadas incluem a implementação de sistemas de deslocamento sobre trilhos, como metrôs, bondes e ônibus “limpos”, que alternam entre motor elétrico e a diese, e os VLTs (veículos leves sobre trilhos).

Essa estruturação abrange vários setores, como por exemplo, o ambiental, o de infraestrutura e o legal. Por isso, um esforço conjunto deve integrar as políticas de mobilidade, desenvolvimento, saneamento básico, planejamento e gestão urbana. O seu funcionamento também envolve:

  • Incentivo de energias renováveis;
  • Controle de circulação;
  • Planejamento cicloviário;
  • Carona corporativa;
  • Controle e emissão de gases;
  • Priorização de transportes coletivos;
  • Construção de esteiras rolantes;
  • Aumento de capacidade de elevadores;
  • Uso de teleféricos;
  • Calçadas mais amigáveis ao uso de cadeiras de rodas;
  • Planejamento da paisagem urbana, com foco no pedestre;
  • Menor poluição sonora por conta de motores barulhentos;
  • Desenvolvimento urbano integrado.

Os desafios da mobilidade urbana sustentável

Apesar de associado frequentemente apenas às questões ambientais, o conceito de mobilidade urbana sustentável engloba um tripé de ações, que incluem também aspectos sociais e econômicos.

Na América Latina, a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa são os meios de transporte. Por isso, não é possível dissociar os problemas de mobilidade das mudanças climáticas.

Segundo os especialistas, os novos modais não são a solução para os problemas de mobilidade. Eles são parte da solução, é o caso da bicicleta, mas também de novos sistemas como o BRT (Transporte rápido por ônibus) – projeto desenvolvido em Curitiba que ganhou o mundo – ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do Rio de Janeiro. O projeto carioca seguiu a tendência mundial de humanizar os grandes centros, tornando-os mais amigáveis para os pedestres.

A era dos automóveis parece que está chegando o fim, as novas gerações já não têm o mesmo sonho de ter um primeiro automóvel. Eles se viram muito bem com o Uber, taxi, caronas, de várias formas. Lentamente, a cultura está mudando e é necessário aproveitar essa mudança para traçar um projeto de futuro.

A relação da arquitetura sustentável com a mobilidade urbana

Nos últimos anos surgiu um conceito chamado “cidade de 15 minutos”, que se tornou a política oficial da prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Trata-se da ideia de promover uma forte descentralização das atividades urbanas, de forma que cada áreas da cidade, acessível a 15 minutos de caminhada, seja autossuficiente para a vida cotidiana.

Ou seja, nesse entorno imediato, o cidadão conseguiria trabalhar, se alimentar, ter lazer, escola para os filhos, etc, tudo que evite o deslocamento motorizado e o uso desnecessário do automóvel.

Neste novo paradigma, cai por terra o conceito estabelecido de zoneamento que temos hoje na maioria das cidades, onde cada porção do território deve ter apenas um único uso (residencial, comercial, serviços). Para se tornar real o conceito da cidade de 15 minutos, é necessária uma abordagem diferente na arquitetura, considerando maior densidade populacional e maior variedade de usos em uma única edificação.

A cidade de São Paulo, por exemplo, promulgou em 2014 seu novo plano diretor que previu uma possibilidade de construção de mais andares, limitando tanto o tamanho dos apartamentos, quanto a quantidade de vagas de carros, com bonificação para mescla de usos residenciais com não residenciais e comércio no térreo.

Tais condições, contudo, foram permitidas apenas onde há corredor de ônibus e metrô, procurando assim cruzar o maior adensamento populacional com a oferta de transporte público. Os resultados desse modelo ainda estão sendo constatados, porém, já surgiram algumas críticas para esse modelo:

  • Haveria vocação de comércio e fluxo de veículos suficiente em todas essas localidades que viabilizasse as novas lojas?
  • Toda essa nova oferta de salas comerciais ou unidades hoteleiras seriam absorvidas?
  • Os miolos de bairros ficariam carentes de serviços e esquecidos no conceito de acessibilidade a 15 minutos?
  • Como entra nessa conta a oferta de novas áreas verdes e de lazer para as áreas carentes destas?

Ainda não podermos constatar plenamente o impacto dessas diretrizes na vida cotidiana da cidade São Paulo, já que os primeiros empreendimentos ainda estão sendo entregues. O que podemos, entretanto, já constatar é maior qualidade dos novos edifícios frutos desse conceito de cidade acessível e multiúso.

A diversidade de usos num mesmo edifício exige do arquiteto maior atenção na elaboração dos projetos para resolver esses volumes de construção distintos e para abrigar, por exemplo, uma loja de pé direito duplo no térreo, salas comerciais nos primeiros pavimentos e apartamentos residenciais acima.

Um exemplo simples, mas impactante é a concepção das janelas: sendo elas, em geral, maiores em usos não residenciais, os apartamentos residenciais acabam por usufruir de janelas igualmente generosas para que o edifício na totalidade tenha sua arquitetura devidamente resolvida.

Outras cidades têm se inspirado no modelo e com objetivos mais ambiciosos. Em Seul, na Coréia do Sul, por exemplo, um grupo de arquitetos está projetando um bairro “cidade 10 minutos”. O empreendimento está prestes a transformar uma antiga área industrial em uma nova cidade inteligente e conectada.

O espaço vai combinar um conjunto de edifícios residenciais, espaços para cowrkings e estudos, além de locais de treinamento, centros de fitness, piscinas e até mesmo fazendas urbanas hidropônicas.

Já imaginou viver em uma cidade onde tudo fica a 10 ou 15 minutos de distância andando? Deixe sua opinião nos comentários!

Os rios são as fontes de um dos recursos naturais indispensáveis aos seres vivos: a água! Além disso, têm muita importância cultural, social, econômica e histórica, pois exercem um efeito enorme sobre a ecologia da superfície da terra e, por consequência, sobre o desenvolvimento humano.

Desde o começo das civilizações, os rios tiveram um papel fundamental para a formação de comunidades, cidades e para a sobrevivência do homem. Exemplo disso é o rio Nilo, segundo rio do mundo em extensão, que foi determinante para o desenvolvimento do Egito antigo.

Localizado em uma região desértica do continente africano, foi graças ao rio Nilo que a sociedade egípcia teve acesso à água para beber, irrigar as terras para a agricultura (após as cheias do rio, as terras das margens ficavam forrada de húmus, um lodo fértil), pescar, cultivar peixes e transportar mercadorias e pessoas.

Até os dias atuais, os cursos de água doce são o sustento de milhares de famílias em todo o Brasil e no mundo. São os rios que estão mais amplamente distribuídos e fornecem o maior volume de água para consumo no mundo.

Milhares de espécies da flora e fauna, inclusive a espécie humana, consomem essa água, que precisa ter uma qualidade adequada para seus diversos usos. É por isso que a disponibilidade e uso de água potável, bem como a conservação dos recursos hídricos, é chave para o bem estar humano.

Além disso, os rios também trazem referências culturais muito importantes sobre a sociedade humana, expressando modos de vida, fazendo parte da biografia de muitas pessoas, compondo memórias e perspectivas.

Mas, ao longo da história, registraram-se alterações nas características e na qualidade das águas dos rios, do ecossistema e, em certos casos, de sua configuração e percurso. Alguns sendo, inclusive, parcialmente retificados e escondidos pela sua canalização.

O que vemos acontencendo?

As enchentes que atingem com frequência a região metropolitana de São Paulo, por exemplo, deixam evidente o quanto as nossas cidades estão despreparadas para eventos climáticos extremos. Cientistas e especialistas têm alertado que esses eventos tendem a se intensificar daqui para frente e se repetir em intervalos cada vez mais curtos.

Para demonstrar como esses alertas e o planejamento integrado das cidades, regiões metropolitanas e bacias hidrográficas não são priorizados, a manifestação mais dramática vem dos próprios rios.

As águas ressurgem violentamente após as chuvas, demonstrando que canalizar, tampar e retificar os rios, ocupando suas margens, foi um erro. Esse modelo urbanístico, que esconde os rios e impermeabiliza o solo, não se adequa às mudanças climáticas.

É por isso que as leis de uso do solo devem ser analisadas com maior critério para estimular o planejamento das cidades com ampliação de áreas verdes, de pavimentos permeáveis, calçadas e telhados verdes, sistemas de bacias de contenção e eco-piscinões associados a praças, parques e equipamentos de convívio social e lazer.

Essas medidas podem trazer melhoria no microclima e para a saúde, e contribuições para minimizar os impactos de eventos extremos como esses.

Para entender um pouco mais sobre o assunto, conversamos com o arquiteto urbanista Gustavo Garrido, que responde algumas perguntas sobre a relação dos rios com as cidades, e de que forma isso implica diretamente na qualidade de vida das pessoas.

Confira!

Antigamente as cidades eram construídas próximas aos rios. Por quê? Qual era sua importância

Os rios eram fonte de alimento, meio de transporte e elemento geográfico de defesa nos primórdios de nossas cidades. Por isso as primeiras aglomerações urbanas eram preferencialmente construídas próximo de suas margens.

Pegando a cidade de São Paulo como exemplo, quando os portugueses se aventuraram pelo interior do continente, encontraram o planalto de Piratininga, cercado pelas íngremes ribanceiras dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, local sabidamente já habitado por povos indígenas. O que fizeram basicamente foi se apropriar daquele território, já conhecido pelo índios.

Ao longo dos anos, os rios foram esquecidos pela população e governantes?

É sempre importante colocar as coisas em seu devido contexto. Os mesmos rios que atraíram as pessoas pelos atributos já descritos, também serviam para despejo de águas servidas.

Quando o fluxo de água é grande e a população pequena isso não é necessariamente um problema, mas com o acréscimo populacional passou a ser uma grave questão sanitária, com a proliferação de mosquitos e doenças transmitidas por eles.

A medicina era muito menos desenvolvida e a proximidade com os rios que era desejável, passou a ser rejeitada em prol de melhores condições de saúde. Contudo, mudava-se quem tinha condições, quem não as tinha, que eram os pobres, escravos e imigrantes, tinham que conviver com a situação.

O poder público historicamente era conduzido pelos interesses de quem tinha posses e que inclusive ocupava os cargos públicos. Os investimentos em infraestrutura assim eram direcionados para os “bairros higiênicos”, daí veio Higienópolis.

Mas o problema era o descarte de esgoto sem tratamento, não o rio em si.

Por que os rios são tão importantes para qualidade de vida nas cidades?

Mesmo com a concentração de investimentos públicos nos bairros ricos, em momentos de bonança em São Paulo, investiu-se em Parques no Anhangabaú e Tamanduateí (parque Dom Pedro II), mas sem saneamento, não acabando com a má fama dos rios, os quais foram dando espaço para vias de circulação viária em suas margens ou até soterrando seus leitos. Viraram assim canais de esgoto a céu aberto.

Entendendo que o problema é saneamento, não os rios, com a crítica questão de agenda climática que vivemos as pessoas percebem o quão importante é a água em nossa vida, principalmente em momentos de seca e com risco de abastecimento.

Mas muito além dessa questão, os rios agregam em qualidade de vida na paisagem urbana, oferecem condições de vida e proliferação de fauna, oferecem opções de lazer e por que não meio alternativo de transporte. Só de pensar seria uma vida muito mais saudável e agradável, não?

O que podemos esperar num futuro sobre este tema?

Muitas cidades ao redor do mundo estão com compromisso sério de renaturalização de rios urbanos. Cidades no Japão, Alemanha, Coréia do Sul, Estados Unidos, estão fazendo sua lição de casa. Em Madri, o rio Manzanares vivia uma situação muito semelhante ao nosso Tietê e foi totalmente requalificado, com sua limpeza e implantação de um grande parque público.

Em Seul, o Parque Cheonggyecheon foi implementado ao longo do rio de mesmo nome, mudando totalmente a cara do bairro e trazendo revitalização dos espaços. É um caminho sem volta para todas as cidades que querem ter alguma proeminência no plano global do século XXI.

Como cuidar, preservar e recuperar os rios?

O cuidado com as águas dos rios, para conservá-las em uma condição adequada para a sustentabilidade da vida e para os diversos usos, envolve uma abordagem bem estruturada em um conjunto de ações nos ambientes públicos e privados. É necessário que cada pessoa se conscientize de sua responsabilidade e coopere no que estiver ao seu alcance, seja em sua moradia ou fora dela.

Nós listamos abaixo algumas ações que ajudam na preservação dos rios, veja:

Consumo Consciente: evitar o desperdício, e sempre que possível e com os devidos cuidados, reutilizar. Pode-se tratar a água com cloro, por exemplo, para certos usos e reutilizá-la, como no caso da água da pia para descarga no vaso sanitário, da água da máquina de lavar roupa do tanque para lavar a calçada, etc.

Preparar captação, reservatório para reuso de água de chuva também é uma boa opção!

Saneamento Básico: a falta do saneamento causa várias doenças e inúmeras internações. Cidades com índices melhores de saneamento tem incidência menor de doenças. Precisa haver um esforço concentrado de todos nós para viabilizar a cobertura de 100% dos usuários no saneamento, no curto prazo.

Dejetos Rurais: efluentes pecuários também causam poluição das águas superficiais e subterrâneas. Os dejetos devem ser destinados corretamente, preferencialmente para adubação ou geração de energia. Com sabedoria e cuidados, podemos minimizar os efeitos colaterais desta criação com a correta destinação dos dejetos.

Resíduos de agricultura: efluentes agrícolas podem conter produtos químicos como fertilizantes (ricos em nitritos e nitratos), pesticidas, que degredam a qualidade das águas superficiais, incluindo as dos rios, quando neles são despejados, além de contaminar águas subterrâneas por infiltração.

A produção agrícola, bem administrada, com a correta análise e correção do solo, viabiliza alto desempenho com baixo efeito colateral ambiental.

Resíduos sólidos: destinação e tratamento adequados de resíduos sólidos, popularmente conhecidos como lixo, são necessários no cuidado com as águas. Os resíduos sólidos, quando descartados incorretamente, causam danos graves que, às vezes, perduram por centenas de anos.

Estes materiais entopem as bocas de lobo, contaminam os córregos, rios e mares, além de, muitas vezes, afetarem animais que confundem com alimentos.

Mata Ciliar: também denominada de vegetação ribeirinha, é a formação vegetal nativa que fica nas margens de rios, riachos, lagos, córregos, represas e nascentes. A mata ciliar promove o equilíbrio dos rios, estabilizando suas margens, ajuda no controle de nutrientes e de produtos químicos no curso da água.

Contribui também para o controle da alteração da temperatura no ecossistema aquático e da formação de barreiras para o carreamento de sedimentos para os cursos d’água, evitando o seu assoreamento. Além disso, as matas ciliares são fundamentais para proporcionar alimentação para os peixes e outros organismos vivos aquáticos.

As florestas amenizam ainda os efeitos das enchentes e impedem a erosão de terrenos montanhosos, prevenindo a queda de barreiras.

Área de preservação permanente: APP é uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, além de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Todas as matas nativas contribuem para as águas. Sempre que possível e dentro das regras vigentes, devemos manter e cuidar das matas nativas nas áreas de APPs.

O exemplo de Nova York

Grandes centros urbanos e água de qualidade em quantidades suficientes para todos, nem sempre é uma combinação possível. Especialmente num planeta em que a escassez de água pode atingir dois terços do mundo até 2050, de acordo com dados da ONU.

Mas na cidade de Nova York, a água que chega às torneiras de quase 9 milhões de pessoas tem origem em fontes superficiais, dispensa tratamento e recebe apenas cloro e flúor antes de ser distribuída. Tema fascinante para geógrafos, ambientalistas e gestores públicos, o sistema de abastecimento do estado de Nova York prova que empresas, sociedade e governos podem prosperar ao investir na natureza.

Você gostou de saber mais sobre esse tema? Tem alguma dúvida? Conte nos comentários!